terça-feira

nasceu nos anos 60, mas foi nos oitenta que viveu mais feliz.  era livre. 
gostava de história e de jornais. planeou ser socióloga mas foi ter ao ofício da concisão e da celeridade. a escola de vida foi a telefonia. nada no tempo lhe é estranho.
e reportou carnavais, cemitérios, campanhas eleitorais. estudou comunicação, gestão e ensinou jornalismo, fez noticiários e crónicas na rádio, dossiês temáticos em revistas, reportagens, entrevistas e breves nos jornais, e até fez fretes nos anos spindoctor. tememos esqueletos em armários até que vendemos a alma ao diabo. 
faz transcrições, edições  e instigações. the new media is the blackmail media.
deambula entre bolos, tartes e pensamentos tolos, entremeando trabalhos académicos para dar consistência a si mesma como sobrevivente. 
tem uma família, filhos, algumas amizades e um contingente de conhecidos. muitos recuerdos. nenhuma crença. não volta nunca aos lugares onde foi feliz. 
há muita coisa que não sabe explicar. lamenta pouco, sentir quase nunca faz bem.
gostaria de  não ter perdido a intuição.
pensa que «anda (muito menos de) meio-mundo, a enganar outro meio». 
dorme tarde, sem sono, de consciência tranquila.  
é noctívaga, invernosa, solarenga. não sabe nada da vida. continua a gostar de histórias de pessoas,  
em algum momento descarrilou do futuro promissor. mas ainda pasma com um dia claro e harmonioso. e chora com narrativas de dilemas de gente.
reconcilia-se um pouquinho a olhar a lua cheia e no barulho do mar. 
talvez um dia consiga chegar ao tibete ou passear nas praias de goa. 

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