sábado

não há mundo para estas palavras

um dia, se lhe dissessem com os olhos e com os lábios amo-te, um dia apenas que fosse, ela sentiria redimir-se dos golpes de azar, das vezes que errara, do muito que deixara por fazer, e das declarações silenciosas dela própria quando diz amo-te, pronunciado apenas uma vez sem bom senso.
há palavras que golpeiam e outras que curam, ou serão as mesmas, conforme se dizem ou se omitem?
há palavras que são pura expressão do sentir, percepção, corrente de ar, tropeção, refúgio, nudez.
certas palavras perdem o tempo, como nos perdemos no tempo de minudências infelizes.
um dia pode valer por mil dias, e um segundo trazer-nos de volta à superfície.


ps - dia internacional contra a violência doméstica. não há palavras que possam resumir o que penso do assunto. só repugnância e vergonha.

domingo

coisas da idade

menos tempo, mais rugas, menor visão, maior acuidade, felicidade simples, doenças graves, precariedade, isolamento, dores avulsas, alegrias efémeras, doses de paciencia, impertinencia casuística, revolta racional, afectos controlados, instantes de insensatez, procrastinação, desvalorização de tudo em medidas assimetricas para cada assunto.

quarta-feira

declaração de amor

"posso ir dormir hoje no quentinho do teu quentinho?"

sexta-feira

a preguiça é descomunal

agora, finalmente, a expressão "vemo-nos gregos" faz sentido.
a lua é negra e carente.
o inverno verdadeiramente molhado, chega mais cedo.
o outono é quente.
a cabeça não tem ideias claras, aliás não tem ideias.
há demasiada gente ocupada em degladiar um poder que não existe.

o mundo parece um lugar sombrio sem fim.
não há luz ao fundo do túnel, que ninguém penetrou.
todos os apetites vão para coisas futéis: sexo, silêncio, solidão, séries.