segunda-feira

vai e vem


aprende-se que não se modifica ninguém.
ensina-se que aprender é uma constante.
a curiosidade alimenta, o trabalho dá solidez.
aprende-se que viajar dá vida. parar mata sempre.
que morremos desde que nascemos. que só paramos, quando morremos.
que ter paciência é sinal de sapiência. que a impaciência é espuma de contrariedades.
que há passos à frente e para os lados, mas ensaiar marcha-atrés só consome tempo.
aprende-se que nada é garantido, nada definitivo.
mas se não há bem que sempre dure, também não há mal que nunca acabe.
que nem tudo depende de nós, que se não depende não o mudamos, mas mudamos o destino conforme nos comprometemos. que ouvir e calar é oportuno, mas calar e nem ouvir é incauto. aprendemos de forma terrível e sem entender, e esquecemos para aprender outra vez e esquecer de seguida. e nada muda, tudo muda, e permanecemos ingénuos e espertos, consoante o adn emocional do nosso mapa pessoal.

sábado

goodbye rem


loosing my religion - REM

...pode perder-se o que nunca se teve?
as músicas deles, por exemplo, permanecem - embora eles se separem.

quarta-feira

levante



Hindi Zahra - Stand Up

conheçam-na e apaixonem-se


Hindi Zahra* - beautiful tango

* 09.11.2011, @ lisboa

sábado

espelho meu

de vez em quando ocorre que a transitoriedade dos dias pode ser mesmo infinita. o que hoje é prazer, logo mais pode descer aos infernos e até aquele ser que nos acompanha sempre pode desgostar de nós. nesse instante, que vale ir ao espelho e perguntar a mim que ando a fazer ao eu? nada. nada de resposta, nada de nada.
cada caminho faz-se de escolhas e consentimentos, que é outra maneira de não escolher escolhendo. e pelos meandros do transitório, procuram-se certezas, pequenas certezas, irrelevantes, irresponsáveis e irregulares. irritantes certezas que consomem e nada somam ao nada que há. de todas as incertezas, a menos falível é o falhar ao tentar e a mais segura de todas o não falhar se não tentar.
tenho horror ao vazio, e ele acolhe-me e consola-me porque é seguro, previsível e constante.
somos nós próprios e as circunstâncias, já dizia Unamuno.
tentar atravessar entre dois arranha-céus no equilíbrio dos inconscientes, faz de nós menos loucos? ou somos mais sãos porque apesar da tentativa conhecemos o risco da queda, mas não a gravidade da fratura, nem a dor que se sente?
tentar sim, até quando? enquanto o medo não for mais forte que o provável degredo.

terça-feira

o farol

uma pedra, depois outra, uma pedra maior, uma outra oval, uma pequenina pedra, e muitas diferentes. com elas fez uma pirâmide irregular. acendeu uma vela, para ter a luz que faltava naquele monte de pedras desordenadas. juntou um pouco de areia em busca da coerência. acendeu uma pequena fogueira com gravetos sem consistência de lareira. por vezes, pensava que tinha um farol, tantos eram os naufragos que procuravam a pálida luz.
e de repente, na incoerência da construção que era a sua vida, sentia o vazio da empreitada. e acendia outra vela, procurando um aroma conveniente, indolente. os novos naufragos chegavam sem-licença de marear, em busca de enormes orelhas e boca pequena, esquecida de fala própria. e neste faz e desfaz espaçado, o tempo não contava para nada, senão fugir-lhe debaixo dos pés.

segunda-feira

Beginners - Official Trailer [HD]


somos sempre principiantes...

um filme que -dizem alguns - pode ser um dos premiados nos próximos óscares.
chama-se 'beginners' e em português é exibido nos cinemas como "assim é o amor". para mim é um grande filme - não pelo tamanho, nem pela carga dramática, não por estar especialmente bem filmado ou montado, não porque vive de uma espectacular história. é cinema terno, triste, optimista, cosmopolita. o cinema é um bocado da vida, que não é nem apoteótica nem suicidária. 'beginners', de mike mills, está classificado como drama-comédia. por aqui já se vê a indefinição. o que realmente interessa em "beginners" não é a moral da história, mas justamente a falta de moral na vida - nas grandes surpresas ou no início de qualquer coisa.

"when it comes to relationships, we’re all beginners."




sexta-feira

ponham o amor na constituição, gratuito e tendencialmente universal

é condiçao do amor ser
transitório
provisório
ilusório
peremptório
e, ao mesmo tempo, é tudo
fecha o mundo, dá-lhe um sentido que rima com sofrido

se não vivessemos a esperança do amor
definitivo, consumido, competitivo, restritivo
...não seríamos tão profetas de uma miraculosa miragem de felicidade

queria um amor para cada pessoa,
gratuito, talvez fortuito,
na crença de que os dias fossem mais toleráveis e aprazíveis

não sei se o amor é fodido, mas bem que podia ser!