sexta-feira

encantadora evidência

há concertos inolvidáveis. o de mr. cohen foi um desses. tocante. porque foi mr.cohen. porque é irrepetível.
ainda bem que as coisas únicas não se repetem.

quarta-feira

swing contra a crise


Caravan Palace - Suzy

a medição da irrelevância

se um tipo que manda diz a alguém que o esse alguém pensa, quer, deseja é irrelevante, está só a ser irrelevantemente tirano ou simplesmente estúpido?
entre números e factos, a relevância advém dos valores de quem julga ou do enquadramento dos dados. já a irrelevância como muleta de linguagem (o lugar primordial onde se exerce o poder) só (me) provoca um esgar de sorriso.

terça-feira

edite soeiro

ela corrigiu-me o meu primeiro trabalho. usava uma trança longa e preta e acho que não saía de frente da máquina de escrever. resmungava baixinho por vezes e impunha um respeito raro numa redacção de homens onde, pelo futebol, estava à vontade. por alguma razão todos, do imberbe estagiário ao camarada chefão, entregavam-lhe os textos para reler e editar como deve ser. ela, tinha o sorriso, contido e seguro, mais marcante que alguma vez encontrei. deu-me conselhos que tinham o preço da sua sinceridade e por isso foram à borla. usava quase nenhumas palavras para falar da vida alheia. era frontal e severa, meiga e maternal. tinha nostalgia de áfrica, saudades do seu próprio começo. era a mais popular entre os novatos. e fazia um arroz de balhacau divinal.
edite, acerto a minha dívida consigo depois.

domingo

veraneio de aforismos

em férias: definitivamente, não fazer planos, não garante aventuras mais excitantes. assegura imprevistos, o que não é o mesmo que um improviso imaginativo.

o tempo esvaindo-se sem um propósito é o mais saboroso do descanso.

a centenas de quilómetros de distância, ela detecta, pelo simples tom de voz que atravessa um telefone, o meu estado de alma. o instinto funciona tal qual um sinal de alarme. mãe é quem nos quer bem.

a moda, dizia a minha avó, está sempre a passar de moda.
porém, isso não chega para que se perceba a razão de usar slip debaixo de calções de praia - algo observável numa praia perto de si.

entender. é preciso entender para aceitar. até para contrariar. ou para desistir de entender. entender como alicerce primordial. se não entendo, perco-me.

diz-me ele: "com classe tudo se supera, ou tolera melhor". e remata assim: "gente inteligente é outra louça, não somos? LOL".

amar é uma sinfonia do entendimento - pelo humor, pela lógica, por outro ângulo qualquer.

tempo de verão

sexta-feira

coisa de mãe

"eu acredito no trabalho.
talento, toda a gente o tem!"

geraldine chaplin, yodona.com, 18.07.2009

terça-feira

o reencontro com a diva

dona amália. todos lhe falavam assim. dirigi-me a ela, a propósito de uma condecoração que ia receber. eu, uma miúda, ela uma senhora. entre a insegurança da repórter e a pose da diva fez-se um registo que passou na rádio. pensei-o perdido. voltou para mim, agora [obrigada!!!. são escassos minutos de conversa solta pela tarde, lá em casa. solta-me uma pontinha de orgulho e nostalgia: não há erro grave de quem entrevista, nem voz trémula, nem questão deslocada, sequer perguntas tontas - e o assunto era escasso, a experiência nenhuma.
por isso, o que sobreveio depois tornou-se francamente pouco relevante.

quinta-feira

a importância da literacia

saber ler: uma coisa que o tempo nos dá, se estivermos com vontade de aprender. se nos mantivermos acordados. virar a atenção sobre o exterior de nós. e aprender nos subtis movimentos do rosto, num olhar vagueante, na ausência de gestos e no desprendimento desatento, o fio final da história. admitir, ainda assim, que não pode haver muita severidade. nem sobre nós mesmos, nem sobre os outros. a vida são dois dias - vá lá, três... é sempre pouco quando se sonha muito.

quarta-feira

a pior violência vem de dentro

violência é violência. física ou psicológica, venha o diabo e escolha. a pior, mesmo, é a emocional. tanto pior quanto, na maior parte das vezes, é a vítima que a inflinge a si própria. dessa, não há lei, nem polícia, nem apav que nos livre. só nós mesmas.
uma mulher rasteja, chora, deambula, até que qualquer presente (envenenado) lhe devolve uma ilusão de futuro.
vem isto a propósito das cenas a que mulheres inteligentes, cultas, emancipadas e profissionalmente competentes, se 'condenam'. aceitam sustentar um ser simplório a troco de sexo ou para manter aparências de uma absurda normalidade com que formatam suas próprias cabecinhas. demasiado triste, exageradamente complexo. em certas ocasiões, bem gostava de ter um número de emergência para chamar uma brigada anti-mutilação. às vezes são tão escandalosos os desequilíbrios de atitude que chegamos a ter naúseas, como testemunhas, de tanta bipolaridade emocional. e que herança de respeito [autodeterminação] deixamos?
é certo que há fraquezas e recaídas em todos os seres, mas no que toca a comportamentos autodestrutivos e de negação ninguém chega aos calcanhares dessas mulheres: a auto-estima fica a preço de refugo, a dignidade segue para a reciclagem e todos os gestos são dignos de uma estação de tratamento de águas residuais... isso sim, justifica que vertamos lágrimas pela dignidade perdida.