sexta-feira

muito a despropósito

nada como adoecer, depois de uma semana extenuante e justamente antes de férias, para justificar uma intragável falta de paciência...
oportunidade para "Arte de Amar", de Ovídio, edição Cotovia.

"que fizeram as pobres mulheres?

São um povo sem armas entregue a homens armados"
[pág.80, Livro III]

ela sabe



A propósito de "Instinto fatal 2", Sharon Stone terá respondido assim a uma pergunta sobre bissexualidade:


"A meia-idade convida à largueza de vistas".



se não me encontram


... é porque ando por ali , em grande divertimento ou em polémicas obtusas.
Na Escola de Lavores há o atractivo do debate; ora, nem sempre nos apetece falar apenas com os nossos botões... Principalmente em ocasiões em que nos sentimos traídas por nós mesmas. E não é preciso tratar-se de amor.

Imagina: vais ter uma semana tranquila, blá, blá, e blá, blá... Depois, dás contigo numa maratona infernal de trabalho, que te deixa a alma em controlo remoto e a cabeça planando fora do corpo. Quando o fim de semana se aproxima, só queres que ele acelere. Aí, constatas que o dia, qualquer dia, aqui ou nos antípodas, tem 24 horas. Saberás o que fazes com elas?

terça-feira

o coração tem sempre razão

...diz o mais recente anúncio da AlfaRomeo, no final de um filme publicitário: uma voz em tom épico disserta sobre a natureza das paixões humanas, enquanto passam fragmentos cenas acrobáticas, arrojadas, escaldantes.
isto tudo para vender um carro.
Com o impacto de uma frase batida, que dá sempre que pensar.

coolhunting


Ela nunca soube muito bem o que queria ser, nem o que gostaria de fazer.
Emprego, marido, carreira nada lhe diziam.
Ideias claras eram raras.
Sempre lhe faltou ambição.
Carreira? Nem pensar.
Nunca faria o upgrade social. Carreira, dissera alguém, só a das camionetas...
Até que descobriu o que faria, se voltasse como urbana, numa próxima encarnação.
Seria coolhunting!
Coolhunting - a arte de adivinhar as próximas tendências, observando a actualidade.
Mais ou menos o que fazem os pesquisadores de mercado, quase sempre ao serviço das marcas.
Seria coolhunting, para sair à rua com uma câmara e um bloco, e reportar em liberdade.
Para depois fazer um relatório com a previsão do futuro.
Mas só faria isso depois, muito depois. Não queria liquidar no presente as reservas de futuro.

[inspirado pelo
artigo sobre uma coolhunting que assegura que «tener un blog es imprescindible para ser 'cool'»]

instante de bem-estar


Conseguir fazer tudo o que se planeou,
no tempo disponível,
com a correria do costume,
e poder, muitas horas depois,
gozar o silêncio da casa,

a sorver lúcia-lima.

domingo

porque defendo, o que defendo

Uma liderança no feminino pode fazer a diferença?
Pessoalmente, acho que faria toda a diferença.

Mas leiam o que diz a embaixadora Barbara Bodine - no dê éne.
"As mulheres não devem chegar à liderança por serem melhores, mas sim para representarem a metade da população que constituem".

e a dúvida metódica?

porque será que, quando vejo notícias destas em manchete "Mais de 10 mil cesarianas desnecessárias em 2004", ilustrada por um cartoon de gosto muito duvidoso, só me ocorre que os jornalistas - que podem ser muito bons profissionais -, provavelmente não se detiveram um segundo a pensar a quem interessa este tipo de manchetes...
às parturientes que gostariam de ter partos naturais e não podem?
ou a um governo preocupado com os gastos do serviço nacional de saúde?
o mesmo que escancara as portas aos negócios dos bancos e seguradoras com a nossa saúde.
- fazem ideia de quantos 'hospitais' privados estão a ser contruidos em plena Lisboa?... percorram apenas a Avenida Lusíada, em Lisboa...

indicadores de civilização

Um dia, talvez distante, causas pelas quais hoje apenas as minorias lutam, poderão ser reconhecidas como indicadores de civilização.
É quase sempre assim.
Portugal tem razões para se envergonhar: por ter sido 'ultrapassado' pela República Checa... que, embora com restrições duvidosas, admite já as uniões de homossexuais... e não apenas porque os checos ultrapassaram Portugal no PIB per capita.
Mas preferimos continuar a meter a cabeça na areia...

não me importava de assinar...

... argumentos como o deste filme, que foi escrito por um tal Rodrigo Garcia.
Personagens complexas, emocionalmente densas, e histórias de vida que se cruzam. O filme, que não lembro se passou nos cinemas, é a estreia na realização do mesmo Rodrigo Garcia, filho do escritor Gabriel Garcia Marquez. Em português, já está nos DVD Clubs. Chamaram-lhe "O que direi olhando para ti". Tem Gleen Close, Cameron Diaz, Calista Flockhart, Holly Hunter, Kathy Baker, Amy Brennenman - e um ritmo pousado, pensado.

Retomo a pergunta essencial:
o que direi olhando para ti?

sexta-feira

'tais bem para o Taj Mahal

o que fazem quatro ou cinco mulheres numa noite de chuva?
coisa de mulheres: soltam conversa, riem, bebem, recordam, comem, discutem - uma memória comum, levemente apagada, por vezes púdica, por vezes escandalosa, muita 'joie de vivre' - exercitam o sentido crítico.
Ah! e fazem projectos para os próximos vinte anos.

quarta-feira

água e desigualdade


há sítios onde se faz muito bom jornalismo, sendo o conceito de bom ou mau subjectivo.

no El País, por exemplo ou na sua revista de domingo EP[S] - aí encontro algumas das mais interessantes entrevistas, perfis, reportagens...
além disso, o El País fala-me de coisas que por cá, mesmo os jornais 'de referência', ignoram ou reportam com atraso ou sem 'alma': como vivem os transexuais, as aventuras dos expatriados, ou "
O milagre da água", na revista El País, de 19/3/2006 .
O milagre da água antecipa o Dia Mundial da água que hoje passa e é uma reportagem sobre a Etiópia, "banhada pelo Nilo, onde 62% da população não tem acesso à água. Milhões de mulheres gastam cinco horas por dia para a ir buscar, ainda que seja insalubre e perigosa. A falta de infraestruturas condena à pobreza, à doença e à incultura muitas delas. (...) Parir no caminho não é o único perigo. As hienas estão por perto.(...) A distância da água agrava os problemas de desigualdade de género."

terça-feira

o choro

choro. choro muito. por tudo e por nada. completamente a despropósito. quando me rio com vontade. porque um filme me comove. com uma música que me afunda. quando a natureza se impõe. porque um gesto de ternura me desarma. porque estou triste. porque recordo. quando tenho saudades. numa situação em que percebo ser completamente impotente e indiferente. quando vejo corpos depois de massacres. ou áfrica paupérrima aparece nos telejornais, meninos órfãos vagueando, armas em mãos de adolescentes-soldados. quando as mulheres choram os filhos perdidos, no meio de uma 'tragédia natural' - um tremor de terra, a devastação da guerra - com os gritos dos que sobrevivem a um tufão ou ao pânico de um tsunami.
choro de raiva. sou traida pelo choro. choro muito. consolo-me a pensar que, pelo menos, não encho a vista com poeira. choro muito menos do que já chorei. às vezes, choro em silêncio, baixinho, segurando as lágrimas, ficando quase sem ver: cruzo-me na rua com uma mulher que chora, traz na mão um exame de ressonância magnética e todo o seu choro é desespero condenado.

hoje



La Primavera
1573
Giuseppe Arcimboldo













Primavera
Botticelli


segunda-feira

bin Laden


... qual deles justifica melhor que tenhámos medo?

[Wafa Yaslam ou Osama]

sábado

uma boa ideia (...)

A Holanda acaba de criar uma espécie de 'prova de admissão' para novos emigrantes, como relata o El País. Começa com a exibição de um filme sobre a sociedade holandesa, que inclui cenas de um casamento gay e mulheres a banharem-se nuas, entre outras cenas; consta também de um questionário com 100 perguntas sobre cultura do país e noções básicas de língua holandesa, para os candidatos.
À partida, parece-me uma ideia excelente: nínguém irá viver para a Holanda 'ao engano' e a abertura de espírito da sociedade passa a ser comungada pelos novos habitantes.

Mas tudo tem dois lados.
E se um país fechado e ditactorial ou particularmente misógino e chauvinista, impusesse o mesmo tipo de provas? Ninguém quereria ir viver para um país onde se sentisse assim 'mal tratado'.
Pergunto-me, por isso, até que ponto não ficaríamos todos a perder com esse segregacionismo, se fosse instituido entre povos e países.

sem vergonha

Um ex-jornalista, depois assessor de um Presidente da República (Jorge Sampaio)acha que agora, como ex-assessor, tem de ir direitinho para conselheiro de Imprensa de uma embaixada portuguesa... Porque o que não faria sentido era ser caixa num supermercado ou trabalhar na construção civil, percebem?
Coisas
destas só podem envergonhar-nos.

sexta-feira

sente-se


há almoços excelentes que são metáforas das relações entre as pessoas: boa conversa, vista espectacular e um frio cortante.

quinta-feira

...

"a minha vida, a mais verdadeira, é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique" - CL dixit

se assim não fosse,
escreveria sobre os meus amores,
os níveis de ambição
e a minha relação com a auto-estima.

embora, desses temas eu saiba apenas o básico,
muito básico mesmo:
tudo o que amo, se amo, porque amo, deixo ir...

e mesmo que o tempo passe,
não deixo de amar. infortúnio, eu sei.

confesso


... gosto muito delas.
Ok., sou suspeita!

... e aposto que haverá mais ingressos.


(sabiam que o linho também dá flor? afinal não são só bordados, nem rendas, nem lavores...)

quarta-feira

dia ganho

... é quando a pessoa mais improvável te diz "obrigada! gosto muito de ti", e a verdade manda que retribuas - mesmo que tudo tenha partido duma acção tua que a apanhou positivamente de surpresa.

porque sim

Daqui a alguns dias, talvez emigre - perdão, imigrei...
Mas o mais certo é nunca abandonar a casa-mãe.
Nós, os que nascemos sob este signo lunar, somos assim.
E tem estado lua cheia, não sei se já deram por isso.
Virá daí uma certa falta de paciência para o desperdício - de conversa, de comida, de tempo, de trabalho... ?
Pensando melhor, acho que não. Detesto mesmo o desperdício.
Quando for uma pessoa grande quero ser respigadora - colectar o que sobra desta sociedade de abundância e fazer um enorme ferro-velho, cheio de trastes e quinquilharias, coisas inúteis e supérfulas ao consumismo.
Eu sei... a respingar assim, feitio de velha rabujenta não me falta.

domingo

a primavera


Gosto muito dela. E, pelos sinais, a prima vera chegou. O Governo está contentinho com o seu primeiro aniversário. O Benfica dá ânimo ao povo e surpreendentes alegrias aos adeptos. O sol está aí e não me desmente.

Eu gosto muito de fazer redacções - de preferência pequeninas, não daquelas que me fazem ter vontade de fugir para uma sala de cinema num dia tão lindo. É o que vou fazer agora.


P.S. - "Prime - Terapia do Amor" (com Uma Thurman e Meryl Streep) é leve e divertido, como aquela gargalhada que se solta inadvertidamente quando alguém nos fala das coisas mais importantes da vida.

ontem...

fez dois anos sobre os atentados de Madrid.
subitamente dezenas de pessoas não chegaram ao destino.
o terror explodiu aqui tão perto.

a presidente do Chile, Michele Bachelet, foi empossada.
o que terá passado pela cabeça daquela mulher nesse instante?
perdoar o que está para trás?
cumprir a promessa de estar com as pessoas. fazer diferente, e melhor.

num auditório cheio e bem sentado em poltronas confortáveis, o primeiro-ministro de Portugal anunciou medidas sociais para os velhos e os novos - mais creches, lares, investimentos,...

[...só me ocorre que amanhã é bem capaz de ser Valparaíso]

sábado

sobreviver

é uma infelicidade sob controlo ultrapassar os 40 mil caracteres de transcrição pura, enquanto as horas se esvaem.
sentir o chão fugir-te é apenas detalhe.
não há determinismo no cansaço, acredita.

dúvida de existência

acontece. um rosto, primeiro. um sorriso, um olhar.
depois a imagem que não sai da cabeça. quase obsessão. instala-se lentamente e toma conta de tudo o que fazemos. olha-se o infinito e a imagem está lá. olha-se o próximo e a imagem impõe-se: o rosto, o sorriso, o olhar.
é o formato da paranóia ou da paixão?

o tempo confirma. querer tudo, não ter nada. é quando se sente o alçapão que ameaça tragar-nos. os sonhos tornam-se mais turbulentos, os dias inquietos. temos medo do que as palavras deixam escapar. há o risco sério de auto-traição, como se fosse possível um hara-kiri de afectos.
e a imagem sempre lá. subitamente ou não tanto, surge o corpo: é preciso saber tudo sobre. a obsessão cresce e a vida sente-se terminal. nada nos sacia a distância.
o poeta dizia: "é urgente o amor".
como se sobrevive a esse naufrágio emocional?

[valem-nos as perguntas retóricas]

sexta-feira

recomendável


tentavam prolongar a ilusão de que o vício de um outro corpo é incurável.
...
sabes? daqui a vinte anos vamos continuar a viver nesta guerra. alguma vez conseguiste separar o amor do combate? alguma vez foste capaz de amar sem te ferires?

[Romance fotográfico metade texto e metade fotografia, com uma imagem a negro e vermelho em cada página, o livro analisa as emoções dum casal que se separa de vez, sem apelo... e volta a reunir-se, e separar-se, e reunir-se. É uma reflexão sobre a inevitabilidade da vida em estado de guerra, e sobre o amor nas entrelinhas das batalhas.]

quinta-feira

declaro que...

não fui convidada para o jantar do Palácio da Ajuda (estão lá 2000 bocas...!) e não reporto, comento ou ignoro a entronização republicana de Cavaco Silva.
.
.
.
"Dão-nos um lírio e um canivete/e uma alma para ir à escola/mais um letreiro que promete/raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário/que tem a forma de uma cidade/mais um relógio e um calendário/onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim/para dar corda à nossa ausência/Dão-nos um prémio de ser assim/sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu/para tirarmos o retrato/Dão-nos bilhetes para o céu/levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crâneos ermos/com as cabeleiras das avós/para jamais nos parecermos/connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história/da nossa historia sem enredo/e não nos soa na memória/outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados/que adormecemos no seu ombro/somos vazios despovoados/de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho/e um pacote de tabaco/dão-nos um pente e um espelho/pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça/e uma cabeça presa à cintura/para que o corpo não pareça/a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro/com embutidos de diamante/para organizar já o enterro/do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal/um avião e um violino/mas não nos dão o animal/que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão/com carimbo no passaporte/por isso a nossa dimensão/não é a vida, nem é a morte"


'Queixa das almas jovens censuradas' - Natália Correia

[um dos poemas que ,de vez em quando,sabe-se lá porquê, tenho imperativamente de ler e reler, até...]

quarta-feira

vómito

é o que se chama 'um dia em cheio':
começa com um braço-de-ferro verbal sem qualquer interesse; ameniza com um e-mail bem-disposto, de alguém de quem gostas muito; passam pelos teus olhos as misérias do 'fingir que se faz' com muito empenho e convicção; alguém que te conhece bem, e estimas, faz-te ver o quanto és transparente em demasia; seguem-se mais umas horas com oo pessoal a enrolar, enrolar, fazer-que-faz, e tu à espera da intervenção superior do chico-esperto; tinhas a ideia de que podias ir celebrar qualquer coisa, logo à noite, num sítio interessante e bonito, com amigos que não vês há muitos anos - mas, como sabes, nem mesmo as agendas electrónicas mais sofisticadas lembram os seus proprietários daquilo que não lhes interessa; tu, que nunca confiaste muito na tecnologia, sabes que ela não resolve problemas, só os cria...

afinal, Maria, qual é o teu lugar e o que queres fazer da vida?...

contradições reais


"Género salarial
As mulheres britânicas são as que mais sofrem com a diferença salarial homem mulher em todo a União europeia, segundo um estudo do Governo de Tony Blair. As mulheres que trabalham a tempo inteiro ganham até 17% menos que os homens na mesma situação. No estudo descobre-se que muitas mulheres com crianças a seu cargo são forçadas a trabalhar a tempo parcial em funções para as quais estão sobrequalificadas."
-revista Pública, nº510, 5.março.006 pág. 73

"Los hombres cobran de media un 40% más que las mujeres em Espana
Cada ano, 380 000 trabajadoras dejan su empleo por razones familiares frente a 14 500 varones. Los hombres ganan un 40,6% más que las mujeres em Espana. La vantaja salarial masculina se regista en todas las ocupaciones, según un estudio elaborado por el Instituto Nacional de Estadística. Ni siquiera la formacion blinda a las mujeres contra la discriminacion salarial."
- El País, pág. 35, 3.marzo.2006

"Estudo do Centre for Economic Policy Research conclui
Mulheres portuguesas têm um salário 20% inferior aos homens
As diferenças salariais entre homens e mulheres em Portugal estão longe dos níveis norte-americano e britânico mas, ainda assim, chegam a um quinto da remuneração. Os casos mais graves acontecem nos trabalhos com baixas exigências de qualificação".
- Semanário Económico, nº 998, pág.45, 24.fevereiro.006

agenda

Stop violence against women
se melhores ideias não houver, podemos começar por aqui ou

questionar o mito da inevitável maternidade

descriminalizar o direito a decidir sobre o seu corpo
acabar com a discriminação com base religiosa, pelos ayatolah, talibãs e demais fundamentalistas

eliminar as práticas de
excisão



terça-feira

todas diferentes no mesmo barco

tal como eva, também não preciso de um dia 8 de março para que me lembre que houve tempos em que não podíamos sequer dar um passo sem autorização expressa do pai ou do marido, e isso era não só legitimado socialmente, como era legal, e por aí fora.....
mas não tenho nada, absolutamente nada!, contra existir um dia internacional da mulher que me recorde o simbolismo desse 8/3/1857 e, sobretudo, me faça pensar que ainda hoje - e o que é pior, amanhã também - milhões de mulheres por todo o mundo, incluindo países ricos e supostamente democráticos, continuam a não poder dar um passo sem autorização do pai ou do marido, e sobre elas pesa uma quantidade imensa de segregações e discriminações que, só de pensar nisso, me envergonho na condição de ser humano.
tenham paciência!
olhem para vós próprias, ou para amigas, ou conhecidas, no dia-a-dia, no local de trabalho, nos transportes públicos, nas ruas:
quem trabalha mais horas, incluindo em casa?
quem é mais mal pago?
quem, tendo estudado mais e tendo mais competências, é inexplicavelmente preterido?

quem, desdobrando-se em múltiplas tarefas e funções, tem de estar sempre a fazer escolhas - sempre a fazer escolhas, já pensaram nisso? - a preterir A para ter B?
quem é alvo de preconceito e de explicações piadéticas (tipo: se a mulher não casa, fica "encalhada" - ao passo que se um homem não casa, é "bon vivant"; se a mulher está irritada, está com a "lua" - mas se for um homem, o mais certo é ser stress, excesso de trabalho, etc.)
abolimos o dia internacional da mulher porque o nosso primeiro-ministro, tão vanguardista nas causas!, concedeu ter duas ministras?!

porque já não está em vigor nem a constituição nem o código civil salazaristas?
ou, porque nos mais variados sectores de actividade, há um número absolutamente irrelevante de mulheres em lugares de decisão, apesar de estudarem mais, serem melhores profissionais e terem até a capacidade de, a cada solicitação, esticarem as 24 horas do dia?
há paridade no tratamento? há respeito igual? há meritocracia?



PMR*


Pode-se pensar dele o que se quiser, mas não lhe falta capacidade de iniciativa. (Re)inventou o Amo.te.
Arrisca e petisca.

Lança hoje a LOVE.E-MAG, uma revista on-line sobre novas tendências, quinzenal e gratuita, por subscrição através de www.lovee-mag.com [Messages From The Heart]
Como de costume, faz coisas bonitas e - porque não? - vanguardistas.

*Pedro Miguel Ramos, apresentador de tv, fã de moda, comunicador, esteta e marketeer.

segunda-feira

...melhor filme*, vai para...


um dos meus filmes.

felizmente disponível...
no circuito de aluguer,
em reposição no cinema,
por aí...

(*votação pessoalíssima)

domingo

a importância da boa disposição

D. perguntou-lhe: "Há quantos anos vocês estão juntos?"
Ela riu-se da pergunta e aconselhou:"Vai perguntar ao teu pai."
Ele foi. E regressou com a resposta (22) e com a justificação que ele próprio desencantou:"Já sei!...E é porque vocês riem-se das mesmas coisas."

sábado

a vida nos eixos



vou finalmente poder arruma-la...
corri 'seca e meca' à procura de solução. encontrei a possível, não a que idealizara.
pergunto-me como pode um objecto tão insignificante ordenar o meu quotidiano...
vou passar as próximas horas a pô-lo em dia.

[há anos e anos que não vivo sem ela... já foi pequena, de bolso, oferta de merchandising; foi de secretária, capa dura, cheia de mapas e moradas; depois foi pessoalizada, em dossiê de argolas; passou a filofax pequeno e preto, depois castanho Ballenciaga, permanecendo assim anos e anos, até que cresceu em elegância para o tamanho A5, num carinho que me fizeram.
chegaram os moleskines, práticos com o elástico, capa dura e a textura do papel... maneirinhos, como convém.
2006 trouxe-me a ideia peregrina de que uma página por dia seria preferível para tantas anotações. o moleskine ganhou espessura e perdeu utilidade. confesso: preciso de arrumar a vida à semana e há afazeres que ficam pendurados para a seguinte. comecei o ano com mais espaço para escrever e nenhum sentido de orientação. o engano ia sendo fatal. a minha vida ficou à mercê de traições da memória]

e assim, a partir de hoje, vou poder alinhavar a semana numa minimalista agenda de bolso portuguesa. que me sirva de lição!...

sexta-feira

Malato

só falo dele porque, ao vaguear por blogs, dei algures com um mea culpa sobre ele que reza assim: "a partir de agora vou evitar embarcar em implicâncias com gente que não conheço pessoalmente, a menos que tenham posições públicas descaradamente preconceituosas. Sim, sim, deveria morder a língua no que toca ao Malato".
Lembrei-me do que tinha lido por aí, em apreciações sumárias e insinuantes sobre o José Carlos Malato, enquanto apresentador de um concurso da RTP chamado A Herança. Achei estapafúrdias as bocas, como se fosse ele o responsável pelo programa! E, conhecendo o círculo de onde saiam esses comentários - que agora seria trabalhoso localizar - tudo me soava ainda mais estranho... de tão preconceituoso. Chega agora a emenda. Antes assim.
O Malato é um tipo de cultura vasta, sempre foi um trabalhador, é uma pessoa divertida, com grande sentido de humor e auto-ironia, profundamente humano. É um grande profissional da comunicação. Não somos amigos, só fomos colegas. Mas as pessoas conhecem-se no dia-a-dia, pelo que fazem, pela forma como se comportam, pensam e sentem, muito mais do que delas vemos ou ouvimos dizer.
O Malato é uma das melhores pessoas que conheço. Merece a boa sorte que tem.

relativizar a violência

a violência é condenável. alguma pode até ser compreensível... mas quase toda é evitável.

não há crimes sofríveis, nem barbaridades toleráveis.

mas nem toda a violência é igual.
há a que é extraordinariamente desproporcional, pelos meios empregues sobre outrém,
uma violência desprezível, indizível, inqualificável, ignóbil.
acontece todos os dias, e não gera os empenhados debates justificados por outros crimes.
acontece, por exemplo, sobre crianças, crianças quase bébés, bebés mesmo.
não é violência feita de medo psicológico, de falta de amor, ou carências de alimento ou cuidado sanitário - é feita disso tudo e de uma bestialidade inexplicável, que nos deve envergonhar e revoltar!

[tem de revoltar-nos! não é tudo a mesma coisa.]

quinta-feira

snobisme

é gostar de revistas - e sucumbir à tentação de comprar, quando os temas de capa convencem.
esta é uma das melhores. confio tanto na edição que a revista vem ter a casa todos os meses. e consegue surpreender-me. este mês com um dossier sobre todos os ângulos d'a autoridade em crise - onde cabe mesmo o artigo "Eloge de la transgression - Les transgressions progressent et l'absence de toute limite favorise le retour de l'autoritarisme. Mais c'est souvent en brisant les tabous que l'on fait avancer l'humanité".

pois!, os franceses são snobs mas atrevem-se a pensar.

no que dá, não saber biologia

porque é que nós, humanos, por exemplo,... não hibernamos?

[seria assim tão disparatado?...também andamos em manadas, somos mamíferos, omnívoros e primatas, seguimos os focos de luz,_ _ _ _ _ etc.]

quarta-feira

o segredo do negócio


depois de, há uns anos, ter havido uma onda de personagens com variadas deficiências(?), a indústria cinematográfica descobriu, mais recentemente, o filão dos filmes sobre a identidade de género. é uma moda.
como moda, a noite dos óscares reflectirá isso mesmo - desde logo, com "O segredo de Brokeback Mountain". nos cinemas portugueses passam ainda "Capote" e "Transamerica", depois de "Odete", e antes de chegar o novo de Neil Jordan, "Breakfast on Pluto" (na imagem).

pergunto se a estas vagas de exibição cinematográfica corresponde maior respeito/aceitação da diferença?

os segredos sufocam...


... é o que me ocorre dizer a propósito de O Segredo de Brokeback Mountain.

Ah! ...e as paisagens do Wyoming são de cortar a respiração. Justificam qualquer viagem.