terça-feira

todas diferentes no mesmo barco

tal como eva, também não preciso de um dia 8 de março para que me lembre que houve tempos em que não podíamos sequer dar um passo sem autorização expressa do pai ou do marido, e isso era não só legitimado socialmente, como era legal, e por aí fora.....
mas não tenho nada, absolutamente nada!, contra existir um dia internacional da mulher que me recorde o simbolismo desse 8/3/1857 e, sobretudo, me faça pensar que ainda hoje - e o que é pior, amanhã também - milhões de mulheres por todo o mundo, incluindo países ricos e supostamente democráticos, continuam a não poder dar um passo sem autorização do pai ou do marido, e sobre elas pesa uma quantidade imensa de segregações e discriminações que, só de pensar nisso, me envergonho na condição de ser humano.
tenham paciência!
olhem para vós próprias, ou para amigas, ou conhecidas, no dia-a-dia, no local de trabalho, nos transportes públicos, nas ruas:
quem trabalha mais horas, incluindo em casa?
quem é mais mal pago?
quem, tendo estudado mais e tendo mais competências, é inexplicavelmente preterido?

quem, desdobrando-se em múltiplas tarefas e funções, tem de estar sempre a fazer escolhas - sempre a fazer escolhas, já pensaram nisso? - a preterir A para ter B?
quem é alvo de preconceito e de explicações piadéticas (tipo: se a mulher não casa, fica "encalhada" - ao passo que se um homem não casa, é "bon vivant"; se a mulher está irritada, está com a "lua" - mas se for um homem, o mais certo é ser stress, excesso de trabalho, etc.)
abolimos o dia internacional da mulher porque o nosso primeiro-ministro, tão vanguardista nas causas!, concedeu ter duas ministras?!

porque já não está em vigor nem a constituição nem o código civil salazaristas?
ou, porque nos mais variados sectores de actividade, há um número absolutamente irrelevante de mulheres em lugares de decisão, apesar de estudarem mais, serem melhores profissionais e terem até a capacidade de, a cada solicitação, esticarem as 24 horas do dia?
há paridade no tratamento? há respeito igual? há meritocracia?



3 comentários:

Woman Once a Bird disse...

Claro que não. Mas toda a gente adora apregoar que sim. E, quando alguém se atreve a colocar a mão na ferida, levam-se as mãos à boca e sussurra-se feminista, como se fosse crime capital.

Anónimo disse...

Subscrevo, mana. Mas há um enigma nisto... É que somos nós mulheres as principais educadoras... É tão difícil vermo-nos a nós próprios às vezes... Beijos, R.

Woman Once a Bird disse...

Eu sei. A maior parte dos comentários depreciativos que ouço quando se fala nisto (leia-se, quando falo nisto) parte exactamente de mulheres. Aliás, somos as primeiras a julgarmo-nos umas às outras, vêmo-nos sempre como rivais. O que, para além de triste, é absurdo. E continuamos a educar os filhos da mesma forma (vejamos quantas mãezinhas aconselham os filhos a arranjar "uma boa mulher" - leia-se que seja uma boa dona de casa)... Enfim, muito há para fazer e dizer. Mas na realidade, preocupam-me as reacções. Antes as mulheres que ousavam questionar eram encaradas como inimigo, hoje são encaradas como palhaças desfazadas da realidade. E, na minha perspectiva, isto é muito nocivo...