sábado

a cena é:
esqueces onde deixaste o carro? está na hora de te desfazeres dele
sofres muito quando pagas um maço de tabaco? tens de procurar rapidamente alternativa
colocas a manteiga no armário do açucar? há certamente uma desregulação territorial doméstica
sobra-te demasiado mês depois do salário em conta a zeros? é tempo de te alheares do dinheiro
não te lembras de conseguir desligar a cabeça, ao fim de um dia? tens um problema sério!
quando é difícil manteres-te acima da linha de água, a mente vagueia até ao passado.
tiras de lá frases definitivas sobre o amor.
desistes dele quando percebes que a outra pessoa não te acudirá na medida do que farias por ela.
o amor encerra-se aí, nessa cortina opaca que não te deixa ver o futuro mais imediato.
podes não vislumbrar nada de positivo, mas precisas sempre de uma réstia de esperança.
apesar de teres sempre o sol lá fora e o mar a uns quilómetros, há uma necessidade intrínseca.
sobreviver ao dia - e à noite - pode tornar-se penosamente pouco salubre.
e, no entanto, tens sempre o tempo a fluir. agarra-te ao presente.

(da série: memórias que queimam)