terça-feira

dantes, se estudasses afincadamente ou assim-assim, tinhas um emprego esfalfado, feito de recibos verdes, avenças quando deus quer, bolsas de tirocínio, e um dia a vida encarreirava-se
agora, mesmo que estudes esfalfadamente, até podes ter diploma de médico, de leis ou de engenharia, mas vais sair com ele à cata de uma caixa registadora onde não vasculhem as habilitações, para conseguires trabalho.
e com um bocado de sorte grande, passas umas dúzias de horas a arrumar mercearias em paletes e estas no armazém, para trazeres um ordenado mínimo regular. e a vida descarrila nesse caminho.

dantes, havia uma coisa que te protegia na vida laboral, chamada leis do trabalho, e outra coisa que funcionava, chamada inspeção
e havia uma entidade pouco ruidosa mas que servia para pôr patrões em sentido - chamava-se sindicato - que impunha uma coisa chamada contrato coletivo de trabalho, e nele fazias finca pé.

agora, contas os dias que faltam até ao fim do mês para saberes quantos salários em atraso faltam para ires até ao iefp nas apresentações quinzenais - obrigação que partilhas com os suspeitos de crime que cumprem termo de identidade e residência.
não há a mais pequena expectativa de que algo mude: à boca cheia todos te aconselham a que te mudes - que emigres, pois.

no rame-rame dos dias, não sei como ainda não espetaste um balde de tinta no senhor desgoverno.

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