segunda-feira

a figura que caminha vai andrajosa. matuta nas virtudes do amor.
todos os dias há um jornal que glorifica o amor. pode ser um estudo, pode ser a entrevista de um especialista, pode ser um poema.
a figura que caminha leva o olhar no chão. tenta equilibrar-se na íngreme calçada à portuguesa.
e faz contas aos euros que não tem.
três idas ao centro de emprego e nenhum subsídio. as contas, essas, continuam a cair. a pessoa contribuinte está refem das empresas provedoras de serviços mínimos.
água, luz, net, seguro, habitação, e vá..., um ou outro pagamento a prestações.
as contas chegam impiedosamente à caixa postal.
a figura que caminha pensa no luxo que tem. nada
mais de quatro euros o maço de tabaco, não prescinde deste gozo que acelera o fim da vida.
a figura que caminha pensa no seu dia, atabalhoado, sobrevivente, desesperado.
a figura que caminha saiu de casa para piorar a gripe que lhe quebra resistências.
a figura que caminha queria estar alegre, soltar um sorriso, talvez gargalhar.

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