« eras a parte boa da minha vida.
sem ti não há sol, 40 graus não se sentem no corpo, caminhar sem rumo não doi, mesmo sob o sol impiedoso. não vale a pena fugir para a sala de cinema, não há mar que me acalme. não há vontade de escrever, arrumar, olhar.
não há fome, nem sono. nunca. não há futuro algum, nenhum presente. não há sequer vaguear. não há sentidos. só há dor grande e sem fundo.
sempre disse que não há mundos perfeitos. nunca houve. agora não há nada de bom - só o que sinto, sem ser a troco da tua felicidade maior.
podíamos ir para lá dos pirinéus, podíamos ficar a resmungar diferenças. esperam por nós a escócia, florença, nova iorque. valeria sempre a pena. valia a pena ter cometido os erros que cometi, as ingenuidades todas, a perda nos afectos mais viscerais. não tinha importância a penúria da vida, a falta de escrúpulos, as chatices diárias. eu sabia que tu me acarinhavas. e completavas com a tua raiva e a tua fé as coisas mais baixas que acontecem. passou a paixão, é certo. passa sempre, sabias? comecei a desculpar tudo, mesmo as irracionalidades mais básicas, as birras mais infantis: todas as coisas que não são realmente importantes. pesava mais o que sobrava de bom. o optimismo pesa sempre mais quando o caminho se faz acompanhada. pessoas como nós têm obrigação de construir. ninguém é feliz a destruir, mesmo que se muna de argumentos lógicos. ninguém dá na medida exacta do que recebe, sei disso.
eu sei das letras e tu mostras-me as cores em todas as pautas. e assim faz sentido. para mim, nenhum conta-quilómetros me cansa se me levarem longe contigo, até ti. e perco-lhes a conta, não me importo. agora, simplesmente, não há momentos felizes para mim. e para ti?
és a (parte boa da) minha vida. ainda és? »