AS MULHERES TÊM TODAS UM PONTO DO CORPO, UM RECANTO DA CIDADE, UMA HORA DO DIA, QUE SÃO NELAS COMO QUE UMA PORTA SECRETA, PELA QUAL PODEM SAIR DE SI PRÓPRIAS, DA SUA TIMIDEZ, E PENETRAR EM TODA A ESPÉCIE DE LOUCURAS, GRAVES OU VENIAIS.[Erik Orsenna]
quarta-feira
osculando atitudes
osculando palavras
o medo é um complemento vazio para o verbo que ninguém sente. ter não é ser.
gracias a la vida, que me ha dado tanto!
domingo
desviadas e flor de lótus
entreabrem-se, matreiros e delicados, até que o desfiladeiro me toma de vertigem. são ténues as vontades racionais, somos infinitamente mais animais que gente - mesmo quando se trata de lábios ou genitais.
nesse instante, digitalmente equilibro-me entre o desejo e a necessidade de mergulhar num mar desconhecido e tortuoso, sem molhe de salvação. sou volvo em vulva.o toque leve dos dedos percorrre suavemente o franzido onde me perco. a cabeça mantém a distância prudente que impedirá a rendição do amor. é o mínimo de decência que meço. não posso apegar-me outra vez.
ele, flor de lótus - é? - um anel concêntrico e vermelho pálido, saindo do esconderijo quando respiras ou resfolegas, quando te acaricío levemente. sem odor, dor, cor, nada mais interessa naquela fracção de tempo. quando gemes e me chamas com a crueza dos néscios, sigo na vontade de te fazer vir. percepciono o meu exterior concentrada em ti, como se esse fosse um momento único e superior.
coitados d@s amantes que se enganam com a realidade. e acordam com o desconforto dos equívocos.
[nada é mais frágil que a franqueza com que comungamos os prazeres, pensando que ninguém faz deles a sua própria contabilidade criativa. e não há agências de rating para os afectos. lixo mais que perfeito, diriam elas.]
quinta-feira
terça-feira
a esteta
no mesmo cenário cosmopolita, uma bela esteticista, não tão jovem assim, mas artista até ao miolo, contava-me a história que me deixou sem fõlego:
nascida onde a europa e a ásia se juntam-ou-separam, foi primeiro vendida algures no tempo e no espaço e depois massacrada pelo marido luso. desejou ter filhos varões, e alá fez-lhe a vontade. antes assim, senhora, que as mulheres sofrem muito. pedi muito e alá concedeu-me, dois filhos homens queridos, que eduquei e me acarinham. orgulhosa da prole sem vícios, só tem um desejo: conhecer o dubai. de resto nem os filhos querem regressar ao irão natal, nem ela concebe outro país para viver que este nosso. a mulher com nome de ópera fala línguas estranhas: russo, árabe, turco, azeri, casaque, e português homologado pelo exame que fez. todo o seu dia começa sem uma hora de acabar, e quando regressa a casa só tem uma meta: recuperar forças para o dia seguinte. eu gosto de fazer bem o meu trabalho para a senhora sair daqui mais bonita,... ainda mais bonita. ....sim, a língua de camões é muito ardilosa. e ali mesmo no largo do dito, há quem fantasie e quem realize. a escolha afinal é sempre de cada um.