quarta-feira

osculando atitudes

coisas que desgosto... sempre, ás vezes, um poucoxinho grande!... dita-duras, do pensamento, do pré-conceito, estreito e nhurro. falácias ditas com convicção, convicções cruzadas com despautério. e declarações de princípio, como se a plateia estivesse à beira do precípicio, em risco fatal, numa queda certeira, salva apenas pelo amén. e as tristezas várias quando lhes morre a esperança, na fluidez da crença, uma tremura insana, o antes assim. o prejuizo da não-desculpa, o esquecimento d'obrigado, os seres alheios à delicadeza do trato. e os favores, favorzinhos, vá lá, dê um jeitinho. a falta de atenção na repartição, a impaciência militante, o fulgor da inabilidade, o arrojo imaturo, a flacidez das ideias, e aquele gesto tenebroso do assentir com a cabeça, qual inerte cachorro de porcelana. e os pressentimentos tão fortes que vão direitinhos ao que queremos ver acontecer, porque se a realidade não se muda, altera-se a percepção que dela temos e o mundo molda-se como adivinhamos. é tudo tão mais fácil assim! com ultimatos, berros escritos, sussurros cuscuvilheiros e armadilhas rasteiras. e com rezas, de igreja ou de partido, mudam-se os símbolos intocáveis e continuamos carneiros num rebanho. e depois, há ainda a força das matilhas, das manadas, das tribos, um disparate de declarações e confusões, bicos-de-pés e desnorte. chiça! há quem não se enxergue como a poeira num pedaço de areia, nano-nano-dimensional face ao mundo real.

osculando palavras

coisas que gosto de gostar... aquela persistência tonta de não desistir e concretizar, tecnologicamente falando! a mania de não dar valor ao valor que outros dão, porque nada do que é dado é valorizado! a coragem de não ter limites no acreditar que é possível, por mais vozes que se façam ouvir num coro grego trágico, que é cómico sem o saber! a futilidade de não ver o perigo, muito menos medi-lo, pesem as experiências e as hordas de tolos que se levam demasiado a sério, como se o mundo cuidasse de temer fátuos poderes! a vida que golpeia o destino, que sisudo vira alegria, e soma prazeres e deambulações descomprometidas, ora tristes ora alegres, sempre vitais! e os seres de luz, luz parda por vezes, luz branca, luz laranja, ainda assim, luz que não se paga nem tem preço!
o medo é um complemento vazio para o verbo que ninguém sente. ter não é ser.
gracias a la vida, que me ha dado tanto!

domingo

desviadas e flor de lótus

entreabrem-se, matreiros e delicados, até que o desfiladeiro me toma de vertigem. são ténues as vontades racionais, somos infinitamente mais animais que gente - mesmo quando se trata de lábios ou genitais.


nesse instante, digitalmente equilibro-me entre o desejo e a necessidade de mergulhar num mar desconhecido e tortuoso, sem molhe de salvação. sou volvo em vulva.o toque leve dos dedos percorrre suavemente o franzido onde me perco. a cabeça mantém a distância prudente que impedirá a rendição do amor. é o mínimo de decência que meço. não posso apegar-me outra vez.


segundos de compasso sem espera.vejo que não vi um rosa-míscaro como o teu, imagem tão bela, um encantamento de olhar.



soerguo-me ante o despontar, concentrada no risco de asneira que me apetecia verbalizar.


ele, flor de lótus - é? - um anel concêntrico e vermelho pálido, saindo do esconderijo quando respiras ou resfolegas, quando te acaricío levemente. sem odor, dor, cor, nada mais interessa naquela fracção de tempo. quando gemes e me chamas com a crueza dos néscios, sigo na vontade de te fazer vir. percepciono o meu exterior concentrada em ti, como se esse fosse um momento único e superior.



coitados d@s amantes que se enganam com a realidade. e acordam com o desconforto dos equívocos.





[nada é mais frágil que a franqueza com que comungamos os prazeres, pensando que ninguém faz deles a sua própria contabilidade criativa. e não há agências de rating para os afectos. lixo mais que perfeito, diriam elas.]

terça-feira

a esteta

a tótó reclama direitos herdados de um desgoverno prazeiroso, ao mesmo tempo que o governo absolutamente maioritário do país dos chico-espertos VS otários aumenta os passes dos transportes em 25 por cento.
no mesmo cenário cosmopolita, uma bela esteticista, não tão jovem assim, mas artista até ao miolo, contava-me a história que me deixou sem fõlego:
nascida onde a europa e a ásia se juntam-ou-separam, foi primeiro vendida algures no tempo e no espaço e depois massacrada pelo marido luso. desejou ter filhos varões, e alá fez-lhe a vontade. antes assim, senhora, que as mulheres sofrem muito. pedi muito e alá concedeu-me, dois filhos homens queridos, que eduquei e me acarinham. orgulhosa da prole sem vícios, só tem um desejo: conhecer o dubai. de resto nem os filhos querem regressar ao irão natal, nem ela concebe outro país para viver que este nosso. a mulher com nome de ópera fala línguas estranhas: russo, árabe, turco, azeri, casaque, e português homologado pelo exame que fez. todo o seu dia começa sem uma hora de acabar, e quando regressa a casa só tem uma meta: recuperar forças para o dia seguinte. eu gosto de fazer bem o meu trabalho para a senhora sair daqui mais bonita,... ainda mais bonita. ....sim, a língua de camões é muito ardilosa. e ali mesmo no largo do dito, há quem fantasie e quem realize. a escolha afinal é sempre de cada um.