quarta-feira

um dia descubro que tudo faz um sentido desajustado. não é preciso ter sonhos, nem carreira, nem objetivos de vida - sim, nunca os tive. um dia acordas de uma noite que não dormiste e perguntas-te se vale a pena arrastar uma parceria por umas migalhas de afeto, sabendo embora a resposta de antemão. um dia, seguras com força as lágrimas e tentas focar-te nas coisas práticas e reais: escrevinhas listas de tarefas e pendentes para dar vazão nos próximos dias, reflexionas sobre estratégias de fuga da confusão em que se tornou a vida doméstica e a outra, e projetas adelante da vida quotidiana. mudar de casa, mudar de gastos, mudar de hábitos, mudar de cidade, vender tecnologia, doar livros, arranjar destino para a roupa. não gastar mais que uma semana na partição dos bens, receber colo, receber abraços, e chorar até que tudo passe e a tendência para a autocensura se dilua no pragmatismo das soluções. por último, deixar os auto-juizos a marinar num baú perdido, na convicção de que como habitualmente, por melhor intencionada que esteja, nunca terei tempo de arrumar as minhas tralhas todas, antes de partir...

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