domingo

impressões (1)

quase uma dúzia de horas de voo, com contra-relógio na escala, e eis-me no destino. pelo meio, houve gente simpática a sorrir, e nada paga um sorriso!
o staff das afro-americanas era, digámos, muito interessante. depois, o marroquino foi gentil, na proporção da insensatez do calor: 87º F e façam as contas...
todas as cidades têm um registo de cheiro e o desta revelou-se invulgar. canela, baunilha?, sei lá que mais, um cheiro quente e doce, e discreto, mesmo que se deva a um snack qualquer. e o velho odor a grill, pois claro.
de resto, é tudo a espaços largos. espaço é o que não falta... tudo talhado para o negócio do turismo. recepção elegante - champanhe, morangos com chocolate, e ainda não percebi o mapa do hotel...
[só faltavas mesmo tu para a orgia ser perfeita].

sexta-feira

and now...

do desapontamento à derrota há só a questão do ponto de vista.
oportunidade para relativizar...

so, let' get out of this country



Camera Obscura

quinta-feira

o inadvertido beijo

rouba-me um beijo, outra vez... e outra, um dia destes.
rouba-o com a fome de quem resgata o desejo.
furtas um beijo, trocamos saliva, trincamos os lábios.

tocam-se carnudos, se(x)culentos e ávidos.
rapta-me um beijo, e faz-me rir depois.

encostam-se os corpos, puxo-te para mim, envolves-me por inteiro. estanques na rua, imunes ao que passa.

morde-se a boca, estreitam-se os corpos que jogam d'olhos fechados.
nunca é demasiado tarde para roubar um beijo.
rouba-me um beijo, e faz-me vir depois.

quarta-feira

scenes of a sexual nature

cenas de natureza sexual... para acabar (de vez) com os dilemas do amor, do sexo, do gostar, do prazer, da memória e das regras da atracção... um filme para ver e rever.
vale pelas sete histórias ou mais (todo o filme é outra história) feitas de gente comum, vulgaríssima, numa tarde de sol num parque. um filme humano, divertido, terno.
diálogos soberbos, que só fazem sentido assim - em literatura perderiam toda a piada, digo eu.
e, já agora, atentem no que dizem Pete e Sara...





lindo, lindo, lindo!!!

o curso das coisas

«ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio»(heráclito).

cá por mim, o rio até pode ser o mesmo, mas as águas são outras... e é então que se (com)prova se o curso d'água está inexoravelmente afectado, ou se houve saneamento.
de qualquer forma, às vezes, um rio não passa de uma choldra, onde há que chafurdar. outras vezes, até um charco salva a sede.
quase sempre, prefiro (atravessar) o mar.




mergulhada nestes pensamentos, surge alguma coisa que muda o curso dos dias.
quando uma porta se fecha com estrondo, logo se abre uma janela.

segunda-feira

vis(i)tas

e prontoS! os links desapareceram da barra lateral. foram, por assim dizer, encostados à parede. mas as visitas continuam ao sabor do tempo. com nov@s vizinhas. só as postas dirão o que valem:
uma rapariga do campo e grafis

sábado

do_mar

o mar sossega(-me). e quanto mais bruto, melhor: na proporção directa da inquietação.
tenho de arranjar dois búzios bem grandes, para lhe recordar o som.
cada onda que sobe e arrasta, lava as areias e as teias da mente. é o eterno retorno ao nada de onde todos viemos. é como se nada mais tivesse poder, senão ele.

quando morrer espero que se lembrem de me atirar aos peixinhos.
(e vou pensar no epitáfio)

sexta-feira

para tod@s v.exas...


a beautiful day*


e, já agora, para mim também! (* ou como dizia p., nenhuma música vai melhor com a que está aqui ao lado)

quarta-feira

a fé que move montanhas

gostava mesmo que ela ganhasse as eleições presidenciais francesas. nem que me arrependesse depois... (algumas ideias, aqui)
desejo que passe à segunda volta, e consiga depois congregar 'la gauche'.
mas já não acredito que seja a próxima/primeira Presidente da República Francesa - quando disse mal dos empresários, traçou logo ali o seu 'destino'...
no entanto, adoro enganar-me se for para ser surpreendida pela positiva. oxalá!

[não entendo porque é que numa notícia sobre a campanha de Ségolène Royal, o repórter da tv estranhou que o comício tenha encerrado com "a marselhesa" - não é esse o hino da frança tricolor?]

terça-feira

da 'sociedade das mulheres'

alain touraine, sociólogo francês, lançou recentemente o livro "le monde des femmes", um ensaio que se recomenda. a propósito, foi entrevistado por um site brasileiro, onde explica como é que o movimento feminista passou de originalmente 'mais político' para o cultural. repesco:

"...de maneira não-espetacular, porém durável, as mulheres desenvolvem uma nova visão para elas próprias e para os homens, à qual estes últimos não se opõem. Poder-se-ia falar de pós ou neofeminismo para falar destas mudanças que me parecem fundamentais. A sociedade dos homens tende a dar a prioridade à conquista do mundo. As mulheres envolvem totalmente a sociedade em direção a uma nova prioridade, a da construção de si própria. Mais precisamente, quando a sociedade masculina impulsionava ao máximo a polarização da sociedade entre uma elite e uma massa, as mulheres procuram reunificar os elementos que foram separados: vida pública e vida privada; sexualidade e espírito. É bem claro que são hoje as mulheres que tomam a palavra e que os homens, ou se calam, ou aprovam a linguagem das mulheres. O velho machismo desapareceu em grande parte, salvo em certos meios de alguns países, em particular da vida política."

"...observa-se a separação da sexualidade e da vida cultural em geral e a construção propriamente social de um modelo de família e também de menor dominação masculina. Estamos apenas no início de uma evolução rápida que separará condutas sexuais sempre mais diversificadas e a construção da vida familiar, tomando, ela própria, formas muito diversificadas."

há uns anos, o mesmo alain touraine tinha dito noutra entrevista:

"É preciso isolar "sexo" o mais que se puder das iniqüidades socialmente definidas e evitar a armadilha de dizer: "Agora as mulheres vão criar uma sociedade feminina, que substituirá a sociedade masculina". A questão mais importante é que as mulheres constróem um modelo universal(...)"

[touraine era muito considerado, há vinte anos, nos meios académicos e políticos 'à esquerda'. será que ainda o é?]

segunda-feira

sofrer


desejamos o que não temos
temos o que não pensamos
pensamos o que perdemos
perdemos o que gostamos
gostamos sem tocar
tocamos sem sentir
sentimos sem retorno
e quedamo-nos assim

domingo

o caminho faz-se caminhando*

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.


Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."


Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."



* "Cantares" de António Machado (1875-1939)

sábado

a grande viagem*


"como pode ser curta a vida inteira
e efémero um gesto e escassa a fala.
(...)
marquemos na areia das horas inclementes,
gravemos no barro dos dias incertos
os passos dos que foram coerentes,
lúcidos e de olhos abertos."

*outra, do 'meu' poeta

sexta-feira

outros dias virão *


"ácido é o pensamento
de ter vivido num deserto
ao rumor dos moinhos de vento
quando a lua estava perto"

* do meu poeta preferido, para a companheira de viagem

finalmente


segunda-feira

rótulos ou a inultrapassável necessidade de catalogar

parece que este modesto blog está linkado por blogs de homossexuais. e linka demasiados blogs de lésbicas. tem muitos banners, e desencadeia comentários feministas exacerbados.
há muitos anos que sobrevivo aos rótulos. 'tou-me nas tintas.
às vezes chateio-me com isso dos rótulos, mas não posso impedir de mos colarem, continuando a ser como sou.
e como acredito que não mandamos na cabeça dos outros, não há nada a fazer - que se lixe!