foi há muitos anos. a violência, sob a forma de prepotência(de um poder paternal) e depois com gestos de dor, levou-a a afastar-se. vários homens depois, a cena repetiu-se longa e pausadamente- e ela a descrer. até que um dia, na exacerbação dos gestos e dos gritos e das ameaças, ela disse em si para consigo que se afastava daquele mal.
mas por muito que o tempo passe, os comportamentos replicam-se como sequelas de um filme podre.
a violência - conta ela - começa com chamada de atenção porque não estamos atentas ao nosso amor, não cumprimos as tarefas domésticas, centramo-nos no trabalho, ou nos outros, ou porque nos vestimos desadequadamente, ou porque não mandamos mensagens, ou mandamos demais, ou porque...
a violência nas relações de afecto começa pelo egoísmo da pessoa agressora, autocentrada, controladora, possivelmente carente, possivelmente muito senhora de si, e acaba na despersonalização da pessoa vítima. "eu exijo a tua atenção mas não me interessa assim tanto a tua vida" ou " ama-me e elogia-me, venera-me até, mas pouco me importa se te dou um abraço quando precisas". uma relação de poder desigual numa relação de caracter amoroso é uma violência sobre ser-se pessoa.
na melhor das hipóteses, há um momento em que resgatamos o amor igualitário ou recuperamos a pessoa livre que somos.
AS MULHERES TÊM TODAS UM PONTO DO CORPO, UM RECANTO DA CIDADE, UMA HORA DO DIA, QUE SÃO NELAS COMO QUE UMA PORTA SECRETA, PELA QUAL PODEM SAIR DE SI PRÓPRIAS, DA SUA TIMIDEZ, E PENETRAR EM TODA A ESPÉCIE DE LOUCURAS, GRAVES OU VENIAIS.[Erik Orsenna]
terça-feira
domingo
há muitos, muitos anos, Simone, a brasileira, cantava "começar de novo, e contar comigo, vai valer a pena...".
o resto pouco importa porque é uma cantiga, e as cantigas é suposto rimarem.
a cantiga virou um clássico, certamente por ter estado na banda sonora de uma das primeiras e raras séries feministas da televisão... tenho saudades confesso dessa revelação audiovisual que foi Malu Mulher.
a cantiga. lembrei-me dela uma dúzia de anos depois de me ter lembrado dela com o mesmo sentimento. há coisas que acontecem contra nossa vontade e é estupido contraria-las. e acontecem recorrentemente. como se a mãe-natureza nos quisesse estimular os neurónios a não seguir os mesmos caminhos, na esperança que nos levem a um sítio maduro e tranquilo. provavelmente nenhum caminho nos leva lá, se calhar o lugar nem existe, se calhar já foi tomado, se calhar destruímo-lo sem querer. se calhar havemos de o ver de longe, como a criança que desejava uma casa de brincar e nunca a teve, e passa a vida a arranjar casas a pensar que será a sério.
o resto pouco importa porque é uma cantiga, e as cantigas é suposto rimarem.
a cantiga virou um clássico, certamente por ter estado na banda sonora de uma das primeiras e raras séries feministas da televisão... tenho saudades confesso dessa revelação audiovisual que foi Malu Mulher.
a cantiga. lembrei-me dela uma dúzia de anos depois de me ter lembrado dela com o mesmo sentimento. há coisas que acontecem contra nossa vontade e é estupido contraria-las. e acontecem recorrentemente. como se a mãe-natureza nos quisesse estimular os neurónios a não seguir os mesmos caminhos, na esperança que nos levem a um sítio maduro e tranquilo. provavelmente nenhum caminho nos leva lá, se calhar o lugar nem existe, se calhar já foi tomado, se calhar destruímo-lo sem querer. se calhar havemos de o ver de longe, como a criança que desejava uma casa de brincar e nunca a teve, e passa a vida a arranjar casas a pensar que será a sério.
sábado
voltamos aos lugares onde fomos felizes ou desesperad@s porque sobrevivemos. na imperfeição de tudo há um certo sentido. perceber que algo os ultrapassa, sem que seja perceptível, desconstrói-nos a paciência.
e de novo tecemos mil fios para dar um sentido perdido ao quotidiano. e nesse mister perdemos o sem nexo da procura, para nos enredarmos na teia que nós mesm@s construimos.
se soubesse fazê lo, derrubaria os muros das minhas convicções, para deixar-me ir na corrente do desleixo e não me consumir com o rigor mortal desta vida gregária.
às vezes, precisava de não ser tão severa comigo e muito mais intolerante com outr@s. uma pitada de sonsice aqui, um qb de alienação ali e umas gramas de dramaturgia, pois... não é a vida um palco?
e de novo tecemos mil fios para dar um sentido perdido ao quotidiano. e nesse mister perdemos o sem nexo da procura, para nos enredarmos na teia que nós mesm@s construimos.
se soubesse fazê lo, derrubaria os muros das minhas convicções, para deixar-me ir na corrente do desleixo e não me consumir com o rigor mortal desta vida gregária.
às vezes, precisava de não ser tão severa comigo e muito mais intolerante com outr@s. uma pitada de sonsice aqui, um qb de alienação ali e umas gramas de dramaturgia, pois... não é a vida um palco?
terça-feira
Gosto do trabalho, e quando não gosto nota-se e não é nada
bom. Mas não sou obcecada pelo trabalho, simplesmente gosto de fazer coisas,
bem feitas, que façam sentido e se possível um sentido especial. Conheci
pessoas que são obsessivas com o
trabalho,sim, extraordinariamente obsessivas,
cada uma com os seus próprios factores de motivação. Para umas a felicidade do
trabalho prolonga-se, noutras acaba por traí-las. Eu, eu, simplesmente
contento-me em ter trabalho e fazê-lo
bem, e isso implica com gosto. Como diz alguém, “sempre em acção”… mas, na
verdade, tem dias…
Acontece é que faço muitas coisas sequencialmente, quase ao
mesmo tempo – acudo às pessoas amigas, preocupo-me com os progenitores,
acalento a descendência e sim, gosto de passar bons momentos com o meu amor. Sem
cobranças patológicas, sem obsessões de veneração, sem desaguisados inúteis… tentando, pelo menos. Mas
nada disso tem o mesmo prazer se não consigo ter os meus próprios momentos a
sós comigo, onde crio e invento e arrumo e procrastino os mil-afazeres que tenho entre-mãos
Agora escrevo este texto, saltito no facebook gerindo páginas, elaboro um plano
de sessão e combino uma entrevista…
E o trabalho, sim, o trabalho. O nazismo dizia que “o
trabalho liberta” e a desempregada do Portugal de agora concede que está
demasiado liberta do trabalho. Ironias da vida!
Quem já passou pela vontade de querer trabalho e não o ter,
valoriza o pouco que tem e passa os dias a escarafunchar possibilidades remotas
de trabalho futuro, precário, ocasional, temporário, efémero, rude, intelectual,
inovador, rotineiro, na medida do sustento das necessidades básicas.
E, é verdade… quem nunca experienciou o desemprego, não pode ter a noção da fragilidade dos dias que vivemos, tão tortos de sem-direitos.
E, é verdade… quem nunca experienciou o desemprego, não pode ter a noção da fragilidade dos dias que vivemos, tão tortos de sem-direitos.
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