terça-feira

foi há muitos anos. a violência, sob a forma de prepotência(de um poder paternal) e depois com gestos de dor, levou-a a afastar-se. vários homens depois, a cena repetiu-se longa e pausadamente- e ela a descrer. até que um dia, na exacerbação dos gestos e dos gritos e das ameaças, ela disse em si para consigo que se afastava daquele mal.
mas por muito que o tempo passe, os comportamentos replicam-se como sequelas de um filme podre.
a violência - conta ela - começa com chamada de atenção porque não estamos atentas ao nosso amor, não cumprimos as tarefas domésticas, centramo-nos no trabalho, ou nos outros, ou porque nos vestimos desadequadamente, ou porque não mandamos mensagens, ou mandamos demais, ou porque...
a violência nas relações de afecto começa pelo egoísmo da pessoa agressora, autocentrada, controladora, possivelmente carente, possivelmente muito senhora de si, e acaba na despersonalização da pessoa vítima. "eu exijo a tua atenção mas não me interessa assim tanto a tua vida" ou " ama-me e elogia-me, venera-me até, mas pouco me importa se te dou um abraço quando precisas". uma relação de poder desigual numa relação de caracter amoroso é uma violência sobre ser-se pessoa.
na melhor das hipóteses, há um momento em que resgatamos o amor igualitário ou recuperamos a pessoa livre que somos.

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