o são valentim, provavelmente, nunca imaginou que iria tornar-se uma obsessão de consumo em pleno século XXI.
à pala do são valentim valorosXs namoradXs confessam as suas paixões a cada 14 de fevereiro, em plena praça públca e com altifalantes de feira. o namoro é o primeiro passo para nos levarmos a sério.
o dia dos namorados é, de todas as efemérides, a mais absurda. assinala o que não existe: o gosto de gostar de alguém, com líbido, prazeirosamente e ad eterno. o amor, para ser mais simples.
ora, o amor é uma mistificação, um vício, uma droga.
agarra-te e nunca mais consegues quebrar a dependência dessa ilusão. pelos momentos de prazer e encantamento passarás dez vezes mais tempo a penar, sofrendo.
e a cada revés, sofres ainda mais. e em cada uma dessas dores exponenciais, vais desejar a morte.
é uma cena demasiado melodramática essa: o amor torna-nos sériXs, e raramente somos pessoas divertidXs por muito tempo - a nossa vida descamba.
depois, mais cedo do que tarde, voltarás a cair na esparrela. apaixonas-te. a paixão consome. melhor seria o são valentim sumir com a paixão. mas não.
em nome da paixão mata-se, agride-se, chantageia-se, domina-se outrem. há lá coisa mais maniqueísta?
a paixão humana, com pessoas que não são família, é uma traição à liberdade, um golpe baixo na autonomia dos seres, uma reles compensação à solidão.
a paixão inverte a lógica racional; pior ainda, mete-a no baú dos segredos e passa a governar a nossa vida sem regra alguma. a paixão é um carrocel de emoções, uma montanha russa de desvarios, promessas tontas, juras de vida entre gambuzinos, ninguém fica em bom estado depois da experiência.
exponencialmente tornas-te mais infeliz.
e depois da paixão - antes dela é pouco provável, em paralelo talvez - há o amor, o tal dom em que cupido controla os terráqueos e estes se tornam gentinha tonta e, na melhor as hipóteses, sofredora mais tarde que cedo. mas infeliz sempre, pensando porém que estão 'bafejados pelo amor'.
o amor, enfim, é o veneno mais sorrateiro que conheço, o embuste mais que perfeito. se dá, tira em dobro. se tira, sonega em triplo. perdes sempre.
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