quinta-feira

o cheiro das cidades

há muitos anos, a primeira vez que saí das nossas fronteiras, percebi que as cidades têm cheiro.
fui à galiza e o cheiro que mais me marcou foi o cheiro dos ducados, uma marca de tabaco negro. fumadora, percebi então que eu fumava outra coisa, tabaco rojo. vigo e a corunha tinham também o cheiro do mar bravio, rebelde, um cheiro a porto de pesca... foi o que a memória registou.
mais tarde foi marrocos: uma confusão de odores, uma anarquia olfactiva: especiarias e azeitonas multi-coloridas nos mercados de tanger, as tinturarias e os curtumes em fez, os batidos de banana e amendoa em casablanca, e, aí, outra vez, o cheiro a mar e o chá de menta por todo o lado.em marraquexe cheirava a poeira do deserto e os quase 50 graus pouco mais deixavam aos sentidos.
depois, fui confirmando que cada cidade tem os seus cheiros, e tem menos cheiros seus quanto mais 'evoluída' é...
é por isso que gosto tanto de lisboa: cheira a alho e coentros ao anoitecer, quando saio do trabalho; cheira a sol ao meio-dia; a castanhas assadas no outono e no inverno; cheira a bronzeado no verão.
lisboa a mal-amada, tão pouco estimada...

[agora parece que vão repensar-lhe os pavimentos - aposto que se preparam para acabar com a calçada à portuguesa; detesto escorregar nela quando fica polida, ou chove, mas é única! não haverá uma solução intermédia?
parece-me que vem aí uma nova polémica e alguma saudade tola - a começar por mim]

2 comentários:

Broken M disse...

acho que a calçada deve ser mantida em locais históricos mas é dispensável no resto da cidade.

Unknown disse...

Também adoro o cheiro de Lisboa, uma das mais belas cidades do mundo, tenho pena se acabarem com a calçada portuguesa, como tu também gostava dessa solução intermédia.. :)
Beijinho, grande..