quinta-feira

countdown

quase chega a gosto e, no entretanto, o tempo torra o que resta da paciência.
em countdown a memória alia-se à agenda e faz a lista das últimas tarefas a cumprir: nada de grandes projectos, nada de despedidas, nada de sério.

mas o que eu queria mesmo era ler uma carta de amor, das tais que nunca foram ridículas.
também podia escrever uma carta de amor, a melhor das sensações tolas.
nela se diriam coisas inibidas de pronunciar. qualquer sinal nos afugenta quando apalpamos terreno no mundo dos afectos. sem que nos apercebamos, as palavras ganham um peso descomunal. nada nos tranquiliza bastante para que as ideias que voam tenham consistência.
todo o elogio traz consigo uma torrente de dúvidas e inquietações. nada foge do pensamento. qualquer detalhe é hiperbolizado à demência. descobre-se que há um fio condutor na vida, não necessariamente o mais saudável. julga-se entender o sentido das coisas. angústia e exaltação vivem um equilíbrio inconstante. e nada nos prepara para o desamparo do que ouvimos.


"Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente ridículas."


esta é a fase do Antes - que ilustraria com detalhes, se escrevesse uma carta de amor.
amor não é uma palavra exdrúxula. sexo também não. nem sequer sentimento.
a fase do Depois vai ter de ficar para (muito) mais tarde.


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