quarta-feira

estados vegetativos

os estados vegetativos têm grandes vantagens. reduzem ao essencial as necessidades e, quando não apagam por completo os neurónios, dão uma clarividência única.
a g. e a h. desempenham com galhardia uma missão terapêutica e fazem-no gratuita e afectuosamente. sobretudo a h., que eu não via há vários anos - ela também hibernara - assumiu aquela personagem que eu nunca conheci, mas pratico todos os dias. a minha gratidão é incomensurável, porque nada do que recebo era suposto.
os estados vegetativos têm outras grandes vantagens: separam o trigo do joio nas relações sociais. a s. faz-me a surpresa de me pôr a participar em coisas que não estariam no horizonte. e, quando percebe, surpreende-me ao jantar e dou-lhe troco ao almoço.
a vida é feita destes equilíbrios. e também de outros figurinos: as ausências de contacto por inexplicáveis motivos, que duram anos. mas eis que subitamente, esse alguém liga-nos, apenas e tão só, porque precisa de um favor pessoal-profissional [deve ser por isso que se diz que a vingança, mesmo moral, é um prato que se serve frio].
há ainda quem não mire o/a outr@ com olhos de ver, nem active ouvidos, continuando a despejar pequenos ou grandes dramas pessoais. sou boa em coaching - dizem. tenho o hábito de accionar os dois olhos e os dois ouvidos, e deixar para o fim a boca. esse fado persegue-me, apesar do meu humor convexo, e dou comigo a terapeutizar quando o divã devia ser meu.
há ainda as figuras folclóricas que só querem checar estados de alma, como se o facebook fosse um café com esplanada num dia de sol.
finalmente, há as amizades que duram e se resguardam, à espera que passem os ventos adversos, ou que a personagem vegetal seja por eles levada.
estes tempos são um barómetro excelente das relações humanas e uma prova de fogo do carácter das pessoas.

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