quarta-feira

"nosotras, las mujeres son más duras de matar"

michele bachelet, a presidente da república do chile, proferiu em lisboa uma conferência* para mulheres (e homens) por iniciativa da umar.
bachelet é uma das poucas chefes de estado e chegou a presidente sendo de esquerda, feminista, mãe solteira, ex-exilada, pediatra reconhecida, e muitas outras coisas. é um emblema das mulheres que fazem a diferença na sociedade, quando participam, quando lideram.
vai sair de cena em 2010 porque não é possível, no sistema político do chile, recandidatar-se. aproveitará para compensar a família (os filhos) pelos mais de dez anos de serviço à causa pública - pode ser que possa dar mais conferências e escrever memórias... o testemunho que deu perante uma plateia heterógenea nas ideologias, plural nos activismos e diversificada do ponto de vista etário é impossível de resumir. michele é também uma mulher sedutora que exala empatia, entusiasmo e informalidade.


bachelet enunciou dados que mostram que mulheres em cargos de gestão em empresas produzem nestas melhores resultados de rentabilidade. identificou nelas algumas características: são mais prudentes, planificam bem, tomam mais opções de longo prazo, medem melhor os riscos e preocupam-se em constituir reservas.

bachelet não dissertou no vazio como fazem as nossas políticas profissionais quando chamadas a falar de igualdade de género. contou o que fez em concreto no chile, as medidas que impôs, as mudanças lentas que se operam e que, assegura, não voltam atrás - nem na lei, nem sobretudo nos valores e nas mentalidades.
alargou o ensino obrigatório de 12 anos para 14, criando dois anos de pré-escolar; assim, os miúdos são acompanhados mais cedo, as mães estão mais disponíveis para trabalhar - no chile, 1/3 dos 'chefes de família' são mulheres...
as mulheres também vivem mais. mas o sistema patriarcal, o machismo, as várias desigualdades deixavam as mulheres desprotegidas na velhice. bachelet instituiu a 'pensão básica solidária' para donas-de-casa e bónus por cada filho, parido ou adoptado. e, para minorar o drama da maternidade adolescente, generalizou a educação sexual nas escolas e o acesso à pílula do dia seguinte.
percebeu também que o trabalho doméstico impedia muito as mulheres de continuarem a estudar ou a participar civicamente, porque não podiam estar disponíveis a desoras: criou um código na administração pública, que as empresas também adoptaram, e que alterou essas condições (nomeadamente, depois de certa hora não há reuniões).
o chile tem hoje 25 casas de acolhimento e 68 centros de acolhimento para mulheres (em breve, uma centena) - esta foi parte da resposta à violência doméstica e ao desamparo das mulheres.
na política, michele bachelet lamenta a fraca participação feminina, mas não impôs quotas - implementou-as ela mesma. se metade da população são mulheres, num gabinete de 20 membros há dez ministros e dez ministras, e o mesmo fez replicar em secretarias de estado e por aí fora. infelizmente, diz, no senado e na câmara de deputados uma ridícula minoria de mulheres é candidata e consegue ser eleita. para bachelet é simples:"alguém imagina uma selecção nacional de futebol com metade dos jogadores em campo? não é possível, nunca sairia vencedora. e assim é com a sociedade, quando rejeita metade das pessoas."

depois de ter começado a conferência com uma mensagem sobre a necessidade de ser-se optimista, bachelet sublinhou que é essencial para as mulheres terem visibilidade. "as mulheres são talentosas e têm de ser visíveis" - ela própria explicou que foi um anterior presidente que a tornou visível, primeiro como ministra da saúde, depois como ministra da defesa. e foi nesta qualidade que um dia ela viu um cartaz, num encontro com mulheres de armas, nos eua. dizia: "nós, mulheres podemos tudo, mas não tudo ao mesmo tempo".
não há, pois, supermulheres. mas é decisivo, diz bachelet, não se render nunca à adversidade e procurar o apoio da comunidade e de outras mulheres.


*Conferência "Género e participação política: a experiência do Chile"- F.C. Gulbenkian

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