tenho pena, muita pena, que é uma coisa terrível de se ter. mas além de mais numerosas e resistentes, somos melhores que eles - excepções também as há, como em tudo. somos mais sensíveis, mais tortuosas, mais inteligentes. somos o longo prazo mesmo quando se estampa na incomunicação diária. é mais fácil ouvir um homem dizer que aprendeu muito com as (suas) mulheres, do que o contrário. essa é mesmo a verdade.
depois, vem o determinismo: o da natureza, da fisiologia, do corpo. e não há mesmo nada que chegue a fazer frente a isso. provavelmente nenhuma mulher grávida teve 'desejos' - arranjou-os para ter aquilo que o estado social normal sempre lhe negou. é mais fácil ver um homem desmaiar com a imagem de sangue do que uma mulher que se defronta com isso ciclicamente. e se ela quer levar a sua avante, pois leva mesmo, ainda que ele(s) fique(m) com o ónus do sucesso. ninguém me tira isso da ideia - sim, também somos terrivelmente teimosas. (o que faz de mim, possivelmente, uma perigosa feminista).
há uma lilith em cada uma de nós, mesmo na virgem santíssima que engravidou sabe-se lá de quem, e fez o mundo engolir a patranha da fecundação pelo espírito santo - veja-se, é a fecundação in vitro avant la lettre, e ninguém reclama... é isso: há uma lilith em cada uma de nós e, agora às claras, assim se toma conta dos lugares académicos, das competências profissionais e junta-se isso tudo à amálgama de gestão de tempos e agendas complexas. eles mandam e governam, dissertam e debatem, mesmo se são incapazes de reagir ao óbvio com a elementar polidez humana ou de fazer o nó da gravata. nós temos mais que fazer: governar a casa, as crianças, os orçamentos, o emprego, as férias, as compras e toda a panóplia de estética de que é suposto preocupar-nos.
tenho pena deles, pois tenho. há um cristo ou um adão do paraíso em cada homem com que nos cruzamos. foram eles que inventaram uma eva para esconder a tal lilith. no lugar deles, talvez tivessemos feito o mesmo. mas isso não quer dizer que não tenha persistido uma lilith em cada uma de nós, não necessariamente em lua negra.
e, então, que vai ser deles? ou, como dizem os cientistas, qual o futuro do cromossoma Y?
1 comentário:
Eu acho que algumas de nós são filhas de Lilith, enquanto que outras o são de Eva, a submissa.
Enviar um comentário