AS MULHERES TÊM TODAS UM PONTO DO CORPO, UM RECANTO DA CIDADE, UMA HORA DO DIA, QUE SÃO NELAS COMO QUE UMA PORTA SECRETA, PELA QUAL PODEM SAIR DE SI PRÓPRIAS, DA SUA TIMIDEZ, E PENETRAR EM TODA A ESPÉCIE DE LOUCURAS, GRAVES OU VENIAIS.[Erik Orsenna]
segunda-feira
anti-status-quo-vadis
não esperes de outros o reverso do que fazes; não declares o profundo sentir, nem expresses as emoções em roda-livre; não descures o teu eu, e só o teu, eu, só; não antecipes as certezas amargas, mas não faças concessões para que tas oferendem; não fales, não fales, não fales; não opines, não azucrines, não respondas; não há ninguém ao teu lado, só (no) passado; o futuro é um caldinho de expetativas, não esperes, não conjetures, não desejes; não há presente mais que perfeito, nem imperfeito, nem composto; os tempos verbais não mudam na língua portuguesa; podes comprar um dicionário de verbos, e folhea-lo todo, mas não te percas com os reflexos...concentra-te no presente indicativo e descansa por vezes com o gerúndio, ...gozando.
determina as tuas regras, para ti e para o teu viver social; nada vive - parece - sem contrapartidas, nem a amizade, porventura nem o amor, e já nem tens idade para te apaixonares. se um dia te ocorre que no dolce fare niente e no calor do afago encontraste a tranquilidade destes tempos, desengana-te: tens aí um problema, porque sem controvérsia não há - parece - enamoramento, afeição, o que for.
termina ainda o que não consegues concluir, suportar, gerir, e isola-te com os seres que não te interpelam senão para uma lambidela. destila a dor e o desgosto em água quase tudo e cloreto de sódio, mas fá-lo a solo, não vás criar uma poça onde te afundes.
a uma dor que sintas na mão, no braço, no peito, na cabeça, lembra-te que há dores maiores que não doem em lugar nenhum e estão sempre presentes: aquela que vem da ausência permanente e definitiva de alguém que amas, ou aquela outra que advém da doença matreira e persistente que te corroi sem perdão; e há as dores da desatenção, da falta de trabalho, do desencontro constante, da desorientação pessoal, da rotina. mas muitos sobrevivem com estas e uns poucos traçam-lhe um fim 'egoista'. ora a escolha, em última análise, será tua.
por fim, cuida-te, cuida-te de fora, cuida-te para dentro, cuida-te na bolha de segurança com outros seres, cuida-te contendo a franqueza, segurando a vertigem, respirando fundo: bebe o sol quando ele aparecer, e controi reservas de sorrisos malandros, para ti, sozinha.
quinta-feira
terça-feira
sábado
não há mundo para estas palavras
há palavras que golpeiam e outras que curam, ou serão as mesmas, conforme se dizem ou se omitem?
há palavras que são pura expressão do sentir, percepção, corrente de ar, tropeção, refúgio, nudez.
certas palavras perdem o tempo, como nos perdemos no tempo de minudências infelizes.
um dia pode valer por mil dias, e um segundo trazer-nos de volta à superfície.
ps - dia internacional contra a violência doméstica. não há palavras que possam resumir o que penso do assunto. só repugnância e vergonha.
domingo
coisas da idade
quarta-feira
sexta-feira
a preguiça é descomunal
a lua é negra e carente.
o inverno verdadeiramente molhado, chega mais cedo.
o outono é quente.
a cabeça não tem ideias claras, aliás não tem ideias.
há demasiada gente ocupada em degladiar um poder que não existe.
o mundo parece um lugar sombrio sem fim.
não há luz ao fundo do túnel, que ninguém penetrou.
todos os apetites vão para coisas futéis: sexo, silêncio, solidão, séries.
quinta-feira
segunda-feira
vagueai inconsoláveis
senhora de si, achou irreal essa compostura de amante amada. quanto mais me prendes, sem que me prendas, mais te mostro que não estou captiva. e foi então que soltou o gnomo feito da matéria comum dos seres que negam o bem do bom da vida. não há doenças, nem acidentes, nem pontos fracos, só uma inaudita busca pela frustração.
porque se é bom, tem de acabar, não é?
domingo
o truque
tenho a madrugada como companheira.
eu estou por aí...
fernanda takai canta isso. encanto-me com ela.
venezia
não se vêem amantíssimos namorados, nem casais celebrando bodas, só gente que deambula, ou espera nos clássicos locais do hall da cidade: o passo ducal, a basílica e a torre de são marcos. há demasiados americanos, e os asiáticos ricos em grupos disciplinados. há lojas com astesões dentro, a fazer peças únicas de couro, ou papiros quase fora de validade. uma italiana é mesmo curta, a melhor custou 90 centimos mas a regra é andar pelos dois euros, há gelados em cada esquina, baratos e bons; o esparguete é sempre al dente, o chianti é ácido, e o melhor tiramisu está lá. as máscaras carnavalescas são infinitas em variedade de materiais e rostos, há contrafação por subsaahrianos que fogem lá como cá ao vislumbre de policia e há venda ambulante de roupa made in italia. do aeroporto toma-se o autocarro cinco para a praça que é o interface de transportes. meia hora depois, lá mesmo, apanha-se o vaporeto com mais cento e tal pessoas para a ribeirinha san marco, não há muito para escolher, só duas linhas: 1 e 2, ou N se for entre a meia noite e as três ou mais da manhã. e o silêncio negro esconde todos os fantasmas do passado nos becos de uma cidade arrancada à idade média, ao renascimento, ao futuro, quem sabe...
segunda-feira
vai e vem
aprende-se que não se modifica ninguém.
ensina-se que aprender é uma constante.
a curiosidade alimenta, o trabalho dá solidez.
aprende-se que viajar dá vida. parar mata sempre.
que morremos desde que nascemos. que só paramos, quando morremos.
que ter paciência é sinal de sapiência. que a impaciência é espuma de contrariedades.
que há passos à frente e para os lados, mas ensaiar marcha-atrés só consome tempo.
aprende-se que nada é garantido, nada definitivo.
mas se não há bem que sempre dure, também não há mal que nunca acabe.
que nem tudo depende de nós, que se não depende não o mudamos, mas mudamos o destino conforme nos comprometemos. que ouvir e calar é oportuno, mas calar e nem ouvir é incauto. aprendemos de forma terrível e sem entender, e esquecemos para aprender outra vez e esquecer de seguida. e nada muda, tudo muda, e permanecemos ingénuos e espertos, consoante o adn emocional do nosso mapa pessoal.
sábado
goodbye rem
loosing my religion - REM
...pode perder-se o que nunca se teve?
as músicas deles, por exemplo, permanecem - embora eles se separem.
quarta-feira
segunda-feira
sábado
espelho meu
cada caminho faz-se de escolhas e consentimentos, que é outra maneira de não escolher escolhendo. e pelos meandros do transitório, procuram-se certezas, pequenas certezas, irrelevantes, irresponsáveis e irregulares. irritantes certezas que consomem e nada somam ao nada que há. de todas as incertezas, a menos falível é o falhar ao tentar e a mais segura de todas o não falhar se não tentar.
tenho horror ao vazio, e ele acolhe-me e consola-me porque é seguro, previsível e constante.
somos nós próprios e as circunstâncias, já dizia Unamuno.
tentar atravessar entre dois arranha-céus no equilíbrio dos inconscientes, faz de nós menos loucos? ou somos mais sãos porque apesar da tentativa conhecemos o risco da queda, mas não a gravidade da fratura, nem a dor que se sente?
tentar sim, até quando? enquanto o medo não for mais forte que o provável degredo.
terça-feira
o farol
e de repente, na incoerência da construção que era a sua vida, sentia o vazio da empreitada. e acendia outra vela, procurando um aroma conveniente, indolente. os novos naufragos chegavam sem-licença de marear, em busca de enormes orelhas e boca pequena, esquecida de fala própria. e neste faz e desfaz espaçado, o tempo não contava para nada, senão fugir-lhe debaixo dos pés.
segunda-feira
somos sempre principiantes...
chama-se 'beginners' e em português é exibido nos cinemas como "assim é o amor". para mim é um grande filme - não pelo tamanho, nem pela carga dramática, não por estar especialmente bem filmado ou montado, não porque vive de uma espectacular história. é cinema terno, triste, optimista, cosmopolita. o cinema é um bocado da vida, que não é nem apoteótica nem suicidária. 'beginners', de mike mills, está classificado como drama-comédia. por aqui já se vê a indefinição. o que realmente interessa em "beginners" não é a moral da história, mas justamente a falta de moral na vida - nas grandes surpresas ou no início de qualquer coisa.
"when it comes to relationships, we’re all beginners."
sexta-feira
ponham o amor na constituição, gratuito e tendencialmente universal
transitório
provisório
ilusório
peremptório
e, ao mesmo tempo, é tudo
fecha o mundo, dá-lhe um sentido que rima com sofrido
se não vivessemos a esperança do amor
definitivo, consumido, competitivo, restritivo
...não seríamos tão profetas de uma miraculosa miragem de felicidade
queria um amor para cada pessoa,
gratuito, talvez fortuito,
na crença de que os dias fossem mais toleráveis e aprazíveis
não sei se o amor é fodido, mas bem que podia ser!
quarta-feira
osculando atitudes
osculando palavras
o medo é um complemento vazio para o verbo que ninguém sente. ter não é ser.
gracias a la vida, que me ha dado tanto!
domingo
desviadas e flor de lótus
entreabrem-se, matreiros e delicados, até que o desfiladeiro me toma de vertigem. são ténues as vontades racionais, somos infinitamente mais animais que gente - mesmo quando se trata de lábios ou genitais.
nesse instante, digitalmente equilibro-me entre o desejo e a necessidade de mergulhar num mar desconhecido e tortuoso, sem molhe de salvação. sou volvo em vulva.o toque leve dos dedos percorrre suavemente o franzido onde me perco. a cabeça mantém a distância prudente que impedirá a rendição do amor. é o mínimo de decência que meço. não posso apegar-me outra vez.
ele, flor de lótus - é? - um anel concêntrico e vermelho pálido, saindo do esconderijo quando respiras ou resfolegas, quando te acaricío levemente. sem odor, dor, cor, nada mais interessa naquela fracção de tempo. quando gemes e me chamas com a crueza dos néscios, sigo na vontade de te fazer vir. percepciono o meu exterior concentrada em ti, como se esse fosse um momento único e superior.
coitados d@s amantes que se enganam com a realidade. e acordam com o desconforto dos equívocos.
[nada é mais frágil que a franqueza com que comungamos os prazeres, pensando que ninguém faz deles a sua própria contabilidade criativa. e não há agências de rating para os afectos. lixo mais que perfeito, diriam elas.]
quinta-feira
terça-feira
a esteta
no mesmo cenário cosmopolita, uma bela esteticista, não tão jovem assim, mas artista até ao miolo, contava-me a história que me deixou sem fõlego:
nascida onde a europa e a ásia se juntam-ou-separam, foi primeiro vendida algures no tempo e no espaço e depois massacrada pelo marido luso. desejou ter filhos varões, e alá fez-lhe a vontade. antes assim, senhora, que as mulheres sofrem muito. pedi muito e alá concedeu-me, dois filhos homens queridos, que eduquei e me acarinham. orgulhosa da prole sem vícios, só tem um desejo: conhecer o dubai. de resto nem os filhos querem regressar ao irão natal, nem ela concebe outro país para viver que este nosso. a mulher com nome de ópera fala línguas estranhas: russo, árabe, turco, azeri, casaque, e português homologado pelo exame que fez. todo o seu dia começa sem uma hora de acabar, e quando regressa a casa só tem uma meta: recuperar forças para o dia seguinte. eu gosto de fazer bem o meu trabalho para a senhora sair daqui mais bonita,... ainda mais bonita. ....sim, a língua de camões é muito ardilosa. e ali mesmo no largo do dito, há quem fantasie e quem realize. a escolha afinal é sempre de cada um.
domingo
a dor e os amigos
é nesse exacto momento que balançamos entre o que temos de menos e o que não teremos nunca mais, um dia. temos sempre de menos o transitório sem perceber o valor do que é incondicional. inventar problemas? eles mesmos entram na nossa vida com a armadura dos sérios e a censura devida aos levianos.
os amigos, dois amigos, tão diferentes e tão iguais, tão desprotegidos e tão fraternos. como compensar as dádivas e o amor incondicional que me dão?
como suspender-lhes a dor e resgatá-los do lugar onde manda o sofrimento?
sábado
(fora) do armário
Lá dentro, mais cedo do que tarde, sucumbe à assepsia dos armários, quando não à tristeza do isolamento.
Dentro dos armários, fica-se tendencialmente quadrado, como os paralelipípedos que se pisam na rua, o espaço público de todas as identidades. Fora do armário, há correntes de ar, chuvas e coriscos, poeiras e malvadezas várias. Mas também há sol, mar e boa gente. Não é o lusco-fusco dos armários bafientos, mas a vida a cores em todas as dimensões.
Moral da história:
Ninguém é inteiro, enquanto esconde ou contradiz uma parte de si mesm@.
Ninguém consegue iludir-se o tempo todo.
Ninguém é feliz escondendo-se.
Ninguém é feliz sozinho.
Ninguém pode fazer por outrem, aquilo que esse outro recusa.
E se, quem pode, não quer mudar, nada adianta escudar-se em terceiros.
sexta-feira
lua nova
quinta-feira
saravá
os meus amores-perfeitos são de uma inusitada ética
murcham, arrebitam, sorriem e nunca mais acabam
do amor desastrado, e dos golpes de sorte, aporto num cais
ela entra de mansinho, quero até nunca mais
tenho o escrúpulo do ralenti, jeito de amadora, toque de veludo
sou absolutamente exclusivista, introspectiva, devotada
ninguém mais entende este gostar de alguém
há uma estética parva a atirar para o arco-íris
festejo um dia de chuva e todo o sol escaldante
queimo o cérebro em conjecturas, risco lembranças a traço de lápis
a estética das amantes é antagónica ao que supõem delas
e toda a pressa resulta em precipício
um princípio apenas, para um voo divino
peço proteção aos planetas e aos mares
tudo me revolve as entranhas
mas a alegria é mesmo um destino
sexta-feira
decisões que custam horrores. horrores decididos sem custo.
a vida dá voltas e encaixa, dois passos adiante, mais perto do mar - falta tempo para o contemplar.
domingo
imenso rima com feliz?
o beijo mais que perfeito,
a multa mais pesada
e um passado imperfeito
na nuca o peso de soco suave,
neurónios em modo hibernado,
preguiça que é entrave,
no dia mais perdulário
há ontens que pesam, e alegram,... e amanhã redentores.
segunda-feira
segunda-feira
raispartaisto
clube Safo_uma 2.ª oportunidade
a mensagem é simples:
Se estiveres disponível contacta-nos no grupo do facebook
“Pessoas que não querem deixar morrer o Clube Safo” https://www.facebook.com/group.php?gid=327740996119&ref=ts ou 965449148 ou para o endereço de e-mail amigascsafo@gmail.com
domingo
visita @ amigas
há coisas que não se pedem. ou se oferecem ou não.
por exemplo, a amizade, numa forma ou noutra, constante ou singular, longa ou efémera.
há pessoas que não conhecemos, mas que visitamos, e é bom na mesma.
há tempo que isso acontece com o blog alma gémea, que um dia destes escreveu uma coisa provavelmente 'vulgar', simples mas muito bonita:
Um passo de cada vez,
Um alento de cada vez,
Um degrau de cada vez,
Uma palavra de cada vez,
Um dia de cada vez.
quarta-feira
domingo
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quarta-feira
terça-feira
domingo
sexta-feira
quinta-feira
terça-feira
segunda-feira
sexta-feira
sir elton john disse que vai ser o novo hino lgbt.
senhoras e senhores, eis BORN THIS WAY de lady gaga:
Lady Gaga - Born This Way (Radio Version) by AnimalMon
quinta-feira
quarta-feira
terça-feira
segunda-feira
sexta-feira
love or leave me (nina simone)... ama-me ou deixa-me
p.s. - maravilhoso este texto do m.v.a. sobre os relacionamentos. indispensável ler.