terça-feira

final (1)

sempre soube que morro cedo. agora, nada importa. há duas semanas que era suposto começar a ficar melhor. nada disso. cada dia é mais penoso. o descontrolo imbecil das emoções, para lá do corpo e do intelecto. três horas de terapia, em vez de uma, não chegaram para o efeito. não sei se consigo esperar os três meses necessários para estabilizar. tenho muitas dúvidas de que seja um projecto viável. agora, não sei nada. a doutora esforçou-se. e eu tenho-me portado como é suposto: tomo os medicamentos, trabalho certinho, vegeto. é o que é. nada.
hoje comecei a fazer a minha banda sonora final. terá o "funeral" todo, e mais uma dúzia de canções da minha vida. sei que quero ser cremada. e quero uma bandeira arco-íris, mais o símbolo feminista - tarefa que alguém acautelará.
antes disso, se nenhum veículo me apanhar sonâmbula junto a uma passadeira com sinal vermelho, tenho mensagens a escrever: três pedidos de perdão, incomensuráveis, que nunca serão concedidos. sei que vão sofrer injustamente.
a vida é madrasta? pode ser. mas é mais qualquer coisa. deselegante, injusta, perversa, torpe, sem bondade, sem lisura, sem sentido.
a obsessão do sentido perde-me. e não há sol.

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