quarta-feira

final (2)

um dia, vários dias, a cabeça tem vida fora do corpo. pensa, vagueia, esvazia-se, de modo próprio. é a autodeterminação da mente. estás doente. mas disfarças bem, se não acordas com olheiras do tamanho do vício de viver.
e quando vais dormir, a cabeça vive o que lhe apetece. dá estímulos que fazem o corpo agonizar. pegas nos barbitúricos, um, dois, três para ires ter com morfeu. mas passas-lhe ao largo. uma, duas, três horas e tu vigilante. cinco da manhã e despertas de supetão do sono que não dormiste. um vulcão de imagens e memórias fazem-te chorar, tremer, encolher, fugir.
percebo que a linha está perto do fim. lá, não há precipício algum, nem tormenta, nem emoção, abraços, nada. não há linha de água, não há redenção. quer-se um cadáver bonito, mirado pela curiosidade de estranhos. os próximos vigiam o remorso da perda. os teus amores não perdoam a saudade impingida. são os danos colaterais das partidas.
depois do fim da linha, há paz. não há anúncios sobre produtos contra a queda do cabelo, nem medicamentos para reforçar as defesas. não há doenças, nem contas para pagar, nem compromissos. é uma terra de ninguém, possivelmente no espaço sideral. não me esperam impostos, nem trabalho, nem amigos, nem quinquilharia. é marcar o fim da linha. egoísmo con sentido, se passaste anos a viver para os outros. fazes desse o teu estandarte de liberdade. e a última atitude de bondade, também.


p.s. - a grande vantagem dos blogs é permitirem calendarizar a publicação de posts ad infinitum...

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