sexta-feira

final (4)

a linha que separa a loucura e a sanidade é tão ténue que ninguém vê. inventaram-se os psiquiatras para a régua e esquadro da marcação da fronteira. a franquia entre a vida e a morte é mais evidente. não sabemos porque nascemos, sabemos sempre porque morremos. a vida não se escolhe. aceita-se, apenas. a morte, sim. ou porque nos portámos mal em vida, com excessos que danificaram a saúde, ou porque a idade fez o seu desgaste, ou porque decidimos. a verdade é que ninguém pergunta ao óvulo e ao parceiro se quer tornar-se gente. mistério de deus: a coincidência. uma subtileza do eco-sistema, nada mais.
ninguém nos pergunta se queremos ser gente. e muito menos nos ensina a ser humanos - aquele nível a seguir ao animal, dizem.
ninguém devia interrogar-se "porque se morre". mas envolvemo-nos sempre em dúvidas meta-existenciais sobre "porque se mata". é bem mais explicável que o ter-se nascido. vida ou morte são fronteiras que não exigem passaporte. apenas vontade e sorte. talvez um pouco de coragem, talvez um pouco de loucura. na verdade, isto anda tudo enrolado. só as cabecinhas tontas querem encontrar um sentido. que não existe. nem para viver, nem para morrer.

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