domingo

final (20)

num país de gente tão disciplinada e chico-esperta, discutir a hipótese de referendar o casamento entre homossexuais é mais um caso de "esperteza saloia".
uma ampla maioria de eleitores votaram em partidos que tinham o fim da discriminação no casamento no seu programa. comprometeram-se a legislar no sentido de acabar com essa desigualdade que, aliás, contraria a constituição da república. claro que o código civil diz que o casamento é uma instituição entre pessoas de sexos diferentes. mas a constituição é a lei máxima e, se algo há a mudar, é o artigo do código.

que dois gays ou duas lésbicas se casem é assunto que só a eles e a elas diz respeito. não interfere com estranhos ou terceiras convicções, a não ser no sentido em que passam a ter de tratados com a mesma dignidade de casal, no que diz respeito a ter filhos, a heranças, a apoio familiar e até a dívidas. só por isto, casar não prejudica ninguém, apenas beneficia a sociedade.

que se crie uma lei que admite o casamento entre pessoas do mesmo sexo mas se 'salvaguarde' o direito de gays e lésbicas adoptarem é uma bizarria. se casais heteronormativos podem adoptar, dentro de certas condições e burocracias, os homonormativos não podem, porquê?
inventar uma lei que reconhece dignidade do casamento mas exclui direitos é um contrasenso - e uma ilegalidade.
mais, o que acontecerá num casal gl em que há crianças e jovens que um ou os dois membros do casal já têm a seu cargo, porque filhos de anteriores relações, adoptados, nascidos por inseminação, etc.?
voltamos a ter dois tipos de filhos? os filhos legítimos e uma espécie de filhos, agora talvez filhos (anti) naturais?

como não está provado que casais gl tenham menos competência para o serem, também não está provado que sejam menos habilitados a serem pais ou mães. exercer o poder parental é essencialmente um acto de generosidade e grande responsabilidade. acresce que muitos casais gl têm poder de compra acima da média e condições socio-culturais vantajosas para educar e criar filhos. é essa a tendência lá fora, já que, cá dentro, não há dados...

por tudo isto, se um casal de gays ou de lésbicas decidir casar deve poder faze-lo com plenos direitos e deveres. o facto de optarem por casar, não melindra a dignidade do casamento de terceiros, seja civil ou religioso. não melindra uma sociedade onde não somos todos padronizados - graças a deus! pode ainda chocar algumas alminhas... sinal de que andavam a dormir.

posto isto, nunca fui fã de casamento mas também nunca fui contra. acho apenas que, quem quiser, casa. e ninguém tem nada a ver com isso. o assunto em voga não é para armar debates, é pura questão de bom senso.

Sem comentários: