a revolta é o mosto da tristeza.
as uvas têm de ficar alegres quando chegam ao lagar...
dizem que é pelo mosto que ganham vida e criam vinho.
tal como uma tristeza a fermentar gera revolta.
apesar de ser um termo assustador, a revolta é um bálsamo para a tristeza. nem sempre, é certo. a gente põe a tristeza a alcoolizar-se e flui a revolta.
as melhores uvas devem comer-se em ocasiões excepcionais, bago a bago - para morder a experiência e saborear o resultado.
e, depois, que se faz ao engaço? na vitivinicultura pode ainda dar boa aguardente. na fervura da emoções tristes, sobram restos de incongruências, retalhos de contas mal feitas, presentes passados, e um mal-estar dilatado pelo tempo. não há hipótese de boa aguardente. das melhores uvas surge, tão só,um barca velha, até um duas quintas, mas nada sobra para bagaço que ilumine uma candeia.
a revolta é uma labareda que pega fogo à alma do ser desalentado. quanto mais sofrida é a tristeza, mas se incendeia a revolta. enquanto arde, não pára para ganhar o fôlego do discernimento, nem compaixão pelo alheio. até que vai repousar a combustão da alma longe das amizades dissimuladas.
a revolta produz um ingrediente que nos tolda o físico e nos enobrece o coração. toda a genuína revolta será perdoada, como todo o excesso será amnistiado.
triturada pela revolta, a tristeza torna-se um acto sedutor, mistura de ternura arrefecida e carinho recatado.
se há gente demais revoltada, não quer dizer que seja gente com revolta a mais. é mesmo com revolta a menos, porque uma coisa é o discurso e outra, bem diferente, a prática. dos discursos já sabemos o rumo: só três ou quatro mudaram alguma coisa nos últimos cem anos. uma acção pequenina muda sempre qualquer coisa em qualquer lado, todos os dias.
a falsa revolta cria vítimas imbecis e julgamentos na praça pública. vive de juizos apressados. não reconhece o direito ao contraditório. a falsa revolta vive de estereótipos e de opiniões definitivas. cria gente amarga e prepotente, sozinha com a ilusão da popularidade. a falsa revolta é anti-científica: reza aos valores, cagada de medo que a sua intrínseca fragilidade caia na rua.
a falsa revolta devia configurar um caso de violência psicológica, com direito a estatuto de crime público. e, aí ,talvez fosse preciso meter psicólogos ou sacerdotes ao barulho, para avaliarem os danos emocionais da hipocrisia geral.
a apav deveria ser apave - porque é o emocional que espoleta a violência. e é aí, no baú das emoções, que a cura começa. em desigualdade, embora: porque , como bem sabem os especialistas, nem toda a gente tem emoções. é um distúrbio de personalidade, mas não é um mal socialmente grave. porquê?
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