quinta-feira

final (3)

este é o país onde funcionários públicos cantam em hino uma versão we are the world - patética. dizem que entram e saem às 9h e às 12h30 e depois às 14h e às 17h30. trabalham muito e ganham pouco e nunca têm excelente! (ide ver ao youtube, e pasmai!). eu nunca trabalhei nesse horário e nunca cantei um hino ao funcionário.
este não é portugal, ditosa pátria, minha amada, mas o país onde o pessoal se "orienta" chulando o estado e o parceiro do lado. "dê lá um jeitinho", tão pequenino, oh faz favor!
teria emigrado há uns anos não fosse a obsessão outra. agora, já é tarde para chegar aos antípodas.

todos os dias faço uma hora de transportes para atravessar a cidade. cada passageiro leva a sua história numa mochila ou num telemóvel. alguns pensam, como eu, o que faço aqui? e ficam, pendurados no varão conspurcado de suores vários até à paragem que lhes convém. saio sempre umas quantas paragens antes do destino. não é possível aguentar tanto tempo num autocarro, de cara encharcada. às vezes, preciso de ir comprar pão ou tabaco. olho para a loja e desvio a minha tristeza da mirada indiscreta dos empregados. fica para outro dia.

cumpro os mínimos em casa, porque há encargos e um rol de tarefas que ninguém me 'orienta', como sempre.
desorientada embora, faz-se o que é preciso no imediato. e chora-se compulsivamente e muito, e não se quer falar nada com absolutamente ninguém. como se passasse uma certidão de óbito ao exterior. como se entre as sete e as oito, o mundo fosse acabar num poço sem fundo. ninguém se queixava. talvez tivesse forças para bater uma palma seca, e pedir bis.

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