quinta-feira

final (17)

um destes dias dei com a notícia do site holandês de apoio ao suicídio. se tivesse capacidade para pensar nas motivações de quem o criou, tê-lo-ia feito. assim foi só a estranheza: alguém que vive preocupa-se em apoiar quem projecta suicidar-se... neste mundo, de facto, a realidade ultrapassa sempre a ficção.

a maneira mais prosaica de a gente se suicidar é andar por aí. uma aglomeração de gente faz maravilhas a quem esteja deprimido. acentua a tristeza e dá logo vontade de fugir, se entretanto não se desmaiar com a clautrofobia social. o cenário mais típico e mais procurado é, em portugal, um centro comercial agora decorado com apelos natalícios.

desde os nove, dez anos que não acredito no menino jesus, que era como chamavamos ao pai natal. por essa altura, duas existências marcaram o fim do natal: a morte do meu avô josé o nascimento da minha irmã. um e outro são, ainda hoje, mistérios encantatórios para mim. o natal é uma época de exageros e falsidades. passo bem sem eles. gasta-se o que não se tem para fazer vista, pensa-se nos tristes egoisticamente, no meio da ceia e bem-estar de que se goza. um dia, vou isolar-me, sem relógio nem bússola, num sítio ermo. alhear-me do mundo, só para ver se no regresso confirmo os piores prognósticos: não há emenda para a multidão insolente.

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